O que é História? (Resumo interpretativo do livro Introdução à História de Marc Bloch - SEÇÃO I )
O livro póstumo de Marc Bloch organizado por Lucien Febvre, autor de Combates pela História e juntamente com Bloch um dos precursores dos Annales, detém-se em responder à seguinte questão: para que serve a História?
Para definir a “serventia” da História é importante realçar que desde sua remotíssima origem até os tempos hodiernos, a palavra História assumiu e ainda assume significados diversos, mesmo ainda permanecendo com o mesmo nome originário da hélade grega a palavra História na contemporaneidade torna-se confusa e complexa tendo na ação do historiador um instrumento de aplicação particular dando à Ciência do homem no Tempo sua especificidade em detrimento a outras ciências.
O autor partindo da definição tradicional expõe que “História é todo estudo de uma mudança na duração” e que sua matéria por essência é o homem, mas não o homem em si, porém o homem inserido em uma sociedade e mantendo relações humanas em uma determinada duração.
Sobre o conceito de tempo, o texto salienta para a singularidade deste fator na História, o tempo não é apenas uma medida como é utilizado nos estudos físicos, o tempo na ciência histórica é por onde transcorre tudo que é objeto de experiência possível, isto é, que se pode manifestar no tempo e no espaço segundo as leis do entendimento.
Marc Bloch critica substancialmente o fato de a História ter em sua busca pelo passado ter servido quase que unicamente para justificar ou condenar o presente, que para ele consiste em um dos maiores inimigos do estudo do passado, ou seja, na mania de julgar os acontecimentos que perpassaram a sociedade como se a História fosse a “juíza do passado”. Outro inimigo, segundo ele o precedente deste, é a obsessão pelas origens, onde devido à ambiguidade do termo, muitas vezes leva ao engano e ao erro muitos estudiosos, pois, origem em seu sentido aceito comumente, determina o princípio, o início; mas levaria também a expor às causas para que tal fenômeno tenha ocorrido? Deste modo, a busca obsessiva pelas origens torna-se fonte de equívocos de historiadores que se esquece de buscar a causalidade dos fatos.
Ainda tecendo considerações acerca do tempo, Bloch traz uma observação sobre ao que permanece no tempo, uma tradição, por exemplo, pode até ser intocada, mas sempre existe a necessidade de encontrar a faculdade de conhecer o real, por oposição ao que é aparente ou acidental, dentro de vertentes que se mantiveram as tradições. O fenômeno histórico está ligado extremamente ao seu momento, indubitavelmente válido para todas as etapas do seu desenvolvimento.
A falta de conhecimento do passado não baliza o conhecimento do presente causando-lhe prejuízos e sim implicando no comprometimento das atuações sobre as causas, fator que merece preocupação especial em todos os âmbitos nas ciências do Homem. O historiador precisa de perícia para compreender o presente, pois se guiará com mais inteligibilidade nas nuances do passado, quiçá não seja interessante adentrar no conhecimento do passado sendo neófitos do presente.
Destarte, das considerações expostas pode-se aferir que uma ciência não se concebe apenas pelo seu objeto, e no caso da História especificamente é notável que seus limites estabelecem-se, por conseguinte na natureza de seus métodos que são: a observação histórica, a crítica e a análise histórica. “Numa palavra, as causas, em História como de resto em qualquer outro domínio, não se postulam. Investigam-se...”. É assim que finda o livro inacabado de Bloch, que têm por objetivo ajudar os historiadores, aliás, um dos títulos do livro – Ofício de Historiador – é bastante ilustrativo do que se trata a obra. Uma das marcas do livro é que a História nunca pode abandonar o seu ímpeto natural pelas causas.
Os fenômenos da História, os quais os estudiosos se baseiam não passam de predileções, escolhas que jamais mostrarão a totalidade de um fato. Outra coisa salutar é o fato de na História não existir um sentido único, a História não se move como a Terra gira em torno de si mesma, a História tem seu movimento próprio de acordo com as reações humanas tanto nos fenômenos físicos como sociais, e estas reações não podem ser consideradas como as únicas possíveis.
A História nunca pode se desvincular do homem e o contrário também não pode acontecer, a história pode ser considerada como a ciência humana por excelência, já que nasceu exatamente quando se dá a primeira aparição do ser humano na Terra.
As ciências trazem consigo o poder de aprazer o homem, ao menos que seja um ignorante. Desvelar a vocação de cada um poder-se-ia dizer que é o mesmo que descobrir sua “distração” e a História é a ciência que traz a volúpia do saber das coisas singulares, pois traz prazeres que não se iguala a nenhuma outra matéria. Definira História como ciência ou não é outro embate discutido no livro, que propõe a História com uma ciência de fato, mas possui aspectos e qualidades diferentes das ciências baseadas no modelo positivo de experimentação. Marc Bloch procura fazer com que a História se proponha muito mais a vivência e a prática a se restringir a “oratória de Academia”.
A História sendo uma coisa em movimento é a mais difícil de todas as ciências segundo o autor, isoladamente considerada, é somente uma peça da deambulação universal para o saber.
Marcadores: Práticas Historiográficas
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