sexta-feira, 29 de maio de 2009

PLATÃO

  • PESSANHA, José Américo Motta. Platão e as idéias. In: REZENDE, Antonio (Org.). Curso de Filosofia: Para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação 11.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. p. 51-67.

Em 428 ou 427 a.C. nasceu em Atenas, Platão, cuja vida foi marcada por constante atividade filosófica, a sua morte se deu em 348 ou 347 a.C. Platão viveu numa época em que a Grécia, e particularmente Atenas vivia um excepcional desenvolvimento econômico e cultural, devido a derrota dos persas e das conquistas políticas de Péricles, grande líder político ateniense que morreu um ano antes do nascimento de Platão.

Na sistema político de Atenas, o regime que dominava era a democracia (governo do povo), todas as decisões eram tomadas em Assembléia diretamente pelos cidadãos, contudo os cidadãos eram apensas os homens livres e nascidos na cidade, ficando sem direito à cidadania as mulheres, os estrangeiros e os escravos e portanto as decisões não eram tomados por todos da pólis e sim por uma parcela da população.

Platão logo percebe que era difícil de instaurar uma política firme e duradoura em Atenas, já que em tempos de paz poucas pessoas compareciam as Assembléias, e mais, muitos cargos eram decididos na tiragem da sorte, pois os gregos achavam que era o meio mais justo. Neste contexto, muitos sábios vieram a Atenas para ensinar a retórica, os sofistas como eram chamados, eram hábeis na arte da argumentação e da persuasão e logo fascinaram jovens aspirantes à vida política, que queriam Ter eloqüência para terem o poder na então democracia de Atenas.



Ainda jovem, Platão interessa-se pela filosofia, ele descendia de família tradicional e aristocrata, e também queria participar da política. Seu primeiro contato foi com a tese do movimento universal das coisas, de Heráclito de Éfeso, mas o grande acontecimento foi o seu encontro com Sócrates.

Sócrates que era um conversador insaciável, um perguntador implacável, afirmava que tinha uma missão: de se conhecer a si mesmo e levar os outros ao autoconhecimento, à conquista da própria alma. Ele levava as pessoas a este autoconhecimento através de diálogos bem conduzidos, onde opiniões frágeis e enganosas acabavam por serem desmascaradas, opiniões sem fundamento, Sócrates conduzia as pessoas que pensavam que pensavam a reconhecerem que nem sabiam o que estavam pensando.

Um das principais técnicas que Sócrates utilizou foi a maiêutica, que é dar a luz opiniões sólidas e fundamentais, e Platão é levado a reformular seu projeto de juventude que era entrar na política. O jovem Platão entende que antes de se falar de justiça, é preciso saber o que ela é, e percebeu que em seu tempo havia uma política oportunista e não com uma ética, uma pedagogia e portanto sem uma ciência.

Com a morte de Sócrates em 399a.C, Platão de novo descontenta-se com sua pólis, pois um justo como Sócrates não pudera continuar lá vivendo e fora assassinado por ela, assim ele vê que Atenas estava longe de ser uma cidade ideal e desta forma, fazer política torna-se para Platão, projetar e construir uma cidade ideal, digna de Sócrates e sua filosofia justamente passa a procurar os fundamentos teóricos deste projeto político.

Depois da morte de seu mestre, Platão viaja pela Hélade, vai desde o Sul da Itália, ao norte da África, onde aprende muito com matemáticos e políticos pitagóricos, os quais influenciarão de maneira determinante sua filosofia.

Em aproximadamente 387 a.C. Platão funda a Academia, que é o primeiro modelo de universidade e pioneira instituição no permanente ensino e pesquisa. O objetivo da academia era sobretudo dar uma preparação política baseada na busca da verdade e da justiça. Na Academia não havia conhecimentos supostamente prontos e definitivos e transmitidos, mas um esforço conjunto pela procura pela verdade, exercício permanente para conhecer mais e melhor.

A filosofia platônica configura a primeira grande síntese do pensamento antigo: o imobilismo parmenídico (da escola eleática) junto com o mobilismo universal (de Heráclito de Éfeso), Portanto ela tenta conciliar essas duas correntes de pensamentos e também a matemática, pois principalmente depois de suas viagens, Platão vê na matemática a base do pensamento filosófico, filosofar é fazer metamatemática. De fato, no pórtico da Academia estava escrito: “Aqui não entre que não sabe geometria”. Durante sua vida, Platão dividiu sua vida entre as atividades de ensino e pesquisa na Academia, tentativas de interferir na política e a realização de suas obras- os Diálogos.

Platão tornou-se um dos maiores escritores de todos os tempos, pois conseguiu unir como ninguém questões filosóficas com grande beleza literária, pois eles escreveu basicamente com Diálogos. Estas obras são verdadeiros dramas em prosa, onde o protagonista majoritário é sempre Sócrates, sendo assim uma tarefa difícil, muitas vezes distinguir o que é filosofia socrática do que é filosofia platônica, visto que o que conhecemos de Sócrates é justamente aquilo que seu discípulo Platão escreveu nestes diálogos.

No entanto as obras de Platão comumente são divididas pelos historiadores em: diálogos da juventude ou socráticos, diálogos da maturidade e diálogos da velhice. Platão também deixou cartas e seu ensinamento oral foi em parte transcrito por seu discípulo Aristóteles.


Para Platão, o ideal de um filósofo era o seu mestre Sócrates, mas Platão foi muito além das teorias socráticas, principalmente ao colocar nos diálogos socráticos, que são verdadeiros embates de consciências e que leva ao autoconhecimento, o método dos geômetras, pois além de despertar consciências, a filosofia platônica busca a resolução de questões teóricas. Destarte, a filosofia platônica inaugura uma nova maneira de filosofar, não buscando uma coisa atrás, uma situação anterior, mas por meio de coisas intemporais, que explicam sempre por que cada coisa é o que é, basicamente é este o método dos geômetras, que propunham hipóteses nas resoluções dos problemas matemáticos.

A partir daí, Platão reconhece que o mundo sensível é um impedimento a construção de um conhecimento seguro e estável, e então ficar-se-ia no relativismos proposto pelos sofistas, como Protágoras de Abdera, que afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”, de fato as sensações apenas fornecem evidências momentâneas e individuais.

E a principal conseqüência destas teorias e métodos, é proposta de que se afirme hipoteticamente a existência de “formas” ou “essências” ou “idéias”. Essas essências seriam incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas. Embora Platão as chame de idéias, não deve-se confundir com o que existe na mente humana, nem como conceitos nem como representações, ao contrário existem em si.

A hipótese do mundo das idéias leva a uma questão: Como o homem que vive no tempo e espaço pode conhecer algo intemporal e incorpóreo? Para esta questão surge outra hipótese, o homem também possui algo incorpóreo e indestrutível, semelhantes à natureza das idéias. O corpo possui uma alma, de forma imortal, que no momento anterior teve conhecimento destas idéias, mas que presa ao corpo se esquece do conhecimento anterior, porém os sentidos ao apreenderem objetos, que são cópias imperfeitas das essências que a alma contemplara, permite a alma que se lembre da “idéias”. Desta forma o conhecimento é reconhecimento, retorno, reminiscência.

O reconhecimento é feito por vária etapas, a verdade não é dada de início. Primeiro estamos no mundo sensível, da opinião e ascendemos primeiros das sombras e da ilusão para a crença e objetos sensíveis, o próximos passo é entra no mundo inteligível, o mundo da ciência através de objetos e conhecimentos matemáticos para enfim chegar as idéias através da dialética, que é o último passo para o Bem.

Platão é considerado por muitos o maior nome da história da filosofia, muitos até comentam que os demais filósofos limitaram-se apenas a fazer anotações e comentários a seus escritos. De fato, o pensamento platônico marca quase todos os setores da cultura Ocidental: a filosofia, a ética, a teoria política, a ciência, a religião, etc. Isto acontece pela riqueza de temas abordados em suas obras e também o fato de pensar sempre aberto a todas as possibilidades, confrontando e examinando as hipóteses.
Podemos ver esta influência desde a Antigüidade, com o neoplatonismo e por último com Plotino, na Idade Média, onde a patrística utilizou os ensinamentos platônicos na tentativa de harmonização da razão filosófica com a fé religiosa, e mesmo depois do advento da escolástica que é marcada principalmente pela filosofia aristototeliana, o platonismo deu alicerce a diversas correntes teológica e filosóficas medievais.
Seu pensamento influenciou a criação da física-matemática, inspirou as linhas modernas do racionalismo e todos aqueles pensadores que se apoiam na matemática e que vêem na matemática o modelo da razão. E não só na matemática, a linguagem literária de Platão é indiscutível. Na política, devido ao seu jogo de hipóteses, é possível buscar argumentos favoráveis do fascismo ao comunismo, dependendo sempre da ênfase que se queira dar a determinada hipótese ou a determinado aspecto da filosofia platônica.
De fato, Platão é presença constante em todos os momentos da filosofia do ocidente, foi na busca pela verdade, examinando todas as hipótese, analisando as opiniões que o fez um grande filósofo. Pois esta busca incessante pela sabedoria, demonstra o seu amor pela sabedoria, o que deve ser inerente a qualquer que se preste a estudar filosofia e nesta ginástica espiritual, no desfio do jogo da idéias é que a verdade é tida como prêmio final, como a luz que chega após a derrota das sombras e ilusões.

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