Biografia resulta em dor-de-cabeça
Uma surpresa desagradável aguardava a historiadora Mary Del Priore tão logo terminou de escrever Matar Para Não Morrer, em que narra o assassinato do escritor Euclides da Cunha por Dilermando de Assis, amante de sua mulher, Anna, em 1909.
Como sempre faz, Mary enviou uma cópia do texto para os herdeiros dos personagens, para eventuais comentários. Foi aconselhada a não publicar o livro sob a pena de ser processada – os netos discordavam da forma como foram apresentados determinados fatos e prometiam recorrer a advogados.
Como sempre faz, Mary enviou uma cópia do texto para os herdeiros dos personagens, para eventuais comentários. Foi aconselhada a não publicar o livro sob a pena de ser processada – os netos discordavam da forma como foram apresentados determinados fatos e prometiam recorrer a advogados.
Euclides da Cunha
Matar Para Não Morrer acompanha a tragédia que vitimou o autor de Os Sertões, mas privilegiando Dilermando de Assis, jovem cadete que o alvejou com três tiros.
– Ele reagiu a um ataque de Euclides, que buscava limpar sua honra. Mesmo assim, Dilermando foi transformado em vilão, rótulo que o perseguiu até o fim – conta Mary que, durante a pesquisa para o livro, garimpou informações em jornais e autores do início do século, muitos deles, como o jornalista João do Rio, espectadores da cena histórica.
Em carta à escritora, Anna Sharp reclamou das descrições físicas e das atitudes comprometedoras dos avós que figuravam no livro – procurada pela reportagem, ela preferiu não se manifestar sobre o assunto.
– Mas é justamente a junção da vida pública com a privada que revela o verdadeiro perfil dessas figuras públicas. No Brasil, os heróis são vistos apenas sob uma chave: a elogiosa – defende-se Mary.
Curiosamente, a historiadora recebeu apoio integral de Dirce, filha de outro casamento de Dilermando. Mesmo sob pressão – um escritório de advogados de São Paulo enviou uma carta à Objetiva em setembro, solicitando a não publicação da obra –, Mary e a editora decidiram prosseguir com a edição.
Atitude distinta da tomada pela Planeta que, em 2007, fez um acordo com os advogados de Roberto Carlos, evitando a abertura de um processo: alegando que sua privacidade havia sido invadida, o cantor queria interromper a venda de Roberto Carlos em Detalhes, biografia não-autorizada de Paulo César de Araújo, o que, de fato, não se confirmou.
– Ele reagiu a um ataque de Euclides, que buscava limpar sua honra. Mesmo assim, Dilermando foi transformado em vilão, rótulo que o perseguiu até o fim – conta Mary que, durante a pesquisa para o livro, garimpou informações em jornais e autores do início do século, muitos deles, como o jornalista João do Rio, espectadores da cena histórica.
Em carta à escritora, Anna Sharp reclamou das descrições físicas e das atitudes comprometedoras dos avós que figuravam no livro – procurada pela reportagem, ela preferiu não se manifestar sobre o assunto.
– Mas é justamente a junção da vida pública com a privada que revela o verdadeiro perfil dessas figuras públicas. No Brasil, os heróis são vistos apenas sob uma chave: a elogiosa – defende-se Mary.
Curiosamente, a historiadora recebeu apoio integral de Dirce, filha de outro casamento de Dilermando. Mesmo sob pressão – um escritório de advogados de São Paulo enviou uma carta à Objetiva em setembro, solicitando a não publicação da obra –, Mary e a editora decidiram prosseguir com a edição.
Atitude distinta da tomada pela Planeta que, em 2007, fez um acordo com os advogados de Roberto Carlos, evitando a abertura de um processo: alegando que sua privacidade havia sido invadida, o cantor queria interromper a venda de Roberto Carlos em Detalhes, biografia não-autorizada de Paulo César de Araújo, o que, de fato, não se confirmou.
Livro de Del Priore
Brecha possibilita embargar obras
Trata-se do caso mais notório da delicada relação entre editoras e biógrafos com descendentes de biografados.
– Não existe mais a figura do censor, de tesoura na mão. Mas existe uma forma de censura explícita, que proíbe a jornalistas, pesquisadores, historiadores e jornais, a publicação de matérias e entrevistas, e a censura mais implícita, que se configura em mecanismos repressivos que se exercem de maneira dissimulada na sociedade – comenta Mary.
Ela estende seu comentário à censura sofrida há 143 dias pelo jornal O Estado de S. Paulo, que foi proibido por liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) de publicar dados da Polícia Federal acerca de negócios do empresário Fernando Sarney.
– Chegamos a recusar a biografia do Roberto Carlos, escrita pelo Paulo Cesar Araujo, por não sabermos qual seria a reação do artista.
Trata-se do caso mais notório da delicada relação entre editoras e biógrafos com descendentes de biografados.
– Não existe mais a figura do censor, de tesoura na mão. Mas existe uma forma de censura explícita, que proíbe a jornalistas, pesquisadores, historiadores e jornais, a publicação de matérias e entrevistas, e a censura mais implícita, que se configura em mecanismos repressivos que se exercem de maneira dissimulada na sociedade – comenta Mary.
Ela estende seu comentário à censura sofrida há 143 dias pelo jornal O Estado de S. Paulo, que foi proibido por liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) de publicar dados da Polícia Federal acerca de negócios do empresário Fernando Sarney.
– Chegamos a recusar a biografia do Roberto Carlos, escrita pelo Paulo Cesar Araujo, por não sabermos qual seria a reação do artista.
Mary Del Priore
Ela conta que também preferiram não fazer a de Ademar de Barros e a do Torquato Neto.
O problema está em uma brecha no Código Civil que possibilita descendentes de biografados embargarem obras que julgam caluniosas.
O problema está em uma brecha no Código Civil que possibilita descendentes de biografados embargarem obras que julgam caluniosas.
Fonte: Clicrbs
Marcadores: Práticas Historiográficas
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