Falando superficialmente sobre o mito do herói nacional...
15 de novembro de 1889 foi a data em
que ficou consagrada a proclamação da República no Brasil. Emília Viotti da
Costa em seu livro Da monarquia a República
argumenta que instauração de um novo sistema de governo no Brasil foi possível
graças a uma confluência de fatores, sendo destes a questão militar a qual
devemos mais ressaltar. Contudo mesmo sendo um texto inovador no que diz
respeito a abordagem do problema e na utilização das fontes, a própria autora
aponta que existam questões outras que ainda poderão ser problematizadas por
outros historiadores.
Dentro das novas pesquisas sobre a Independência
que José Murilo de Carvalho se insere com seu livro A formação das almas em consonância com os pressupostos
apresentados por Viotti na obra já citada, discute as propostas de República
que estiveram vigentes no período pré e pós republicano. Diferenciando da obra
de Viotti, Carvalho tenta responder quais as maneiras que a República
instaurada sem a participação popular passou a ser “ingerida” e “digerida”
pelos populares no decorrer dos primeiros anos republicanos.
Dentre os diversos aspectos citados
por Carvalho, podemos salientar a construção de um herói. Em A formação das Almas, Carvalho no
capítulo três discute como foi forjada a imagem de Tiradentes como herói
nacional. Ele, o autor, argumenta que a projeção de Tiradentes se deu pelo fato
de ele ser o elo cimentador da nação, posto que, mesmo que mesmo imbricado de
diversas contradições e também de “concorrentes”, como os próprios personagens
do 15 de novembro e ainda Bento Gonçalves e Frei Caneca. O que Carvalho
sustenta como definidor de Tiradentes como herói é que pelo lado dos
proclamadores da República existia intensa disputa em que a definição de um
como herói poderia causar grandes dissensões, e daqueles que promoveram
revoltas como Bento Gonçalves e Frei Caneca, além de serem regiões mais
distantes do país, poderiam significar o elogio as práticas de luta armada e luta
armada, inflamação dos ânimos para reivindicações era o que menos os membros
das elites queriam.
Sendo Tiradentes uma figura que
propôs a revolução, mas que só ocorreu no papel, que foi preso, porém morto
como mártir e não como um guerreiro e que estava localizado na região político-econômico
mais importante da época (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) se tornou
gradativamente o herói, aquele que unia a nação no passado, no presente e no
futuro, o símbolo do cidadão que aceitou sua condição em face do bem de todos.
E era essa conformação social contida
na figura de Tiradentes, apresentada por Carvalho, que almejava a elite
política em seu projeto de modernizar o Brasil. Eronize Lima Souza na
dissertação Prosas da Valentia: violência
e modernidade na Princesa do Sertão (1930-1950) trata de como esse ideal de
modernidade e modernização se propagou da capital carioca ao interior da Bahia
discutindo como esse projeto foi gestado nos inícios da República. A modernização
se pautou principalmente na alteração das sensibilidades e sociabilidades, o
projeto de higienização e sanitarização provocaram mudanças nos comportamentos,
as campanhas “bota abaixo” para que fossem abertas ruas e avenidas para os automóveis
desterritorializava as velhas práticas na urbe.
Ao fim e ao cabo, a imagem de
Tiradentes servia para tentar disciplinar essas chamadas “classes perigosas” a
fim de que ao passo que o mote modernizador republicano fosse colocado em
prática, estas classes se conformassem, tendo em vista, que era para o bem da
nação, assim como Tiradentes morreu pela pátria era preciso deixar passar a onda
modernizadora.
REFERÊNCIAS:
CARVALHO,
Jose Murilo de. A formação das almas: o imaginário da Republica no Brasil. 15ª reimpressão São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.
SOUZA,
Eronize Lima. Prosas da valentia: violência e modernidade na Princesa do
Sertão (1930-1950). Salvador, Ba, 2008. 253 f. Dissertação
(Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal da Bahia, 2008.
COSTA, Emília Viotti da. Da
Monarquia a Republica : momentos
decisivos. 3. ed São Paulo: Brasiliense, 1985.
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Marcadores: Brasil República
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