domingo, 23 de outubro de 2011

Falando superficialmente sobre o mito do herói nacional...

15 de novembro de 1889 foi a data em que ficou consagrada a proclamação da República no Brasil. Emília Viotti da Costa em seu livro Da monarquia a República argumenta que instauração de um novo sistema de governo no Brasil foi possível graças a uma confluência de fatores, sendo destes a questão militar a qual devemos mais ressaltar. Contudo mesmo sendo um texto inovador no que diz respeito a abordagem do problema e na utilização das fontes, a própria autora aponta que existam questões outras que ainda poderão ser problematizadas por outros historiadores. 



Dentro das novas pesquisas sobre a Independência que José Murilo de Carvalho se insere com seu livro A formação das almas em consonância com os pressupostos apresentados por Viotti na obra já citada, discute as propostas de República que estiveram vigentes no período pré e pós republicano. Diferenciando da obra de Viotti, Carvalho tenta responder quais as maneiras que a República instaurada sem a participação popular passou a ser “ingerida” e “digerida” pelos populares no decorrer dos primeiros anos republicanos.




Dentre os diversos aspectos citados por Carvalho, podemos salientar a construção de um herói. Em A formação das Almas, Carvalho no capítulo três discute como foi forjada a imagem de Tiradentes como herói nacional. Ele, o autor, argumenta que a projeção de Tiradentes se deu pelo fato de ele ser o elo cimentador da nação, posto que, mesmo que mesmo imbricado de diversas contradições e também de “concorrentes”, como os próprios personagens do 15 de novembro e ainda Bento Gonçalves e Frei Caneca. O que Carvalho sustenta como definidor de Tiradentes como herói é que pelo lado dos proclamadores da República existia intensa disputa em que a definição de um como herói poderia causar grandes dissensões, e daqueles que promoveram revoltas como Bento Gonçalves e Frei Caneca, além de serem regiões mais distantes do país, poderiam significar o elogio as práticas de luta armada e luta armada, inflamação dos ânimos para reivindicações era o que menos os membros das elites queriam.
Sendo Tiradentes uma figura que propôs a revolução, mas que só ocorreu no papel, que foi preso, porém morto como mártir e não como um guerreiro e que estava localizado na região político-econômico mais importante da época (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) se tornou gradativamente o herói, aquele que unia a nação no passado, no presente e no futuro, o símbolo do cidadão que aceitou sua condição em face do bem de todos.




E era essa conformação social contida na figura de Tiradentes, apresentada por Carvalho, que almejava a elite política em seu projeto de modernizar o Brasil. Eronize Lima Souza na dissertação Prosas da Valentia: violência e modernidade na Princesa do Sertão (1930-1950) trata de como esse ideal de modernidade e modernização se propagou da capital carioca ao interior da Bahia discutindo como esse projeto foi gestado nos inícios da República. A modernização se pautou principalmente na alteração das sensibilidades e sociabilidades, o projeto de higienização e sanitarização provocaram mudanças nos comportamentos, as campanhas “bota abaixo” para que fossem abertas ruas e avenidas para os automóveis desterritorializava as velhas práticas na urbe.
Ao fim e ao cabo, a imagem de Tiradentes servia para tentar disciplinar essas chamadas “classes perigosas” a fim de que ao passo que o mote modernizador republicano fosse colocado em prática, estas classes se conformassem, tendo em vista, que era para o bem da nação, assim como Tiradentes morreu pela pátria era preciso deixar passar a onda modernizadora.




REFERÊNCIAS:

CARVALHO, Jose Murilo de. A formação das almas: o imaginário da Republica no Brasil. 15ª reimpressão São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

SOUZA, Eronize Lima. Prosas da valentia: violência e modernidade na Princesa do Sertão (1930-1950). Salvador, Ba, 2008. 253 f. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2008.


COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia a Republica : momentos decisivos. 3. ed São Paulo: Brasiliense, 1985.

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