quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Falando superficialmente da Independência na Historiografia Brasileira

--> -->COSTA, Wilma Peres. A Independência na Historiografia Brasileira. In JANCSÓ, István. Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec: FAPESP, 2005.

O artigo de Wilma Peres Costa da Universidade Estadual de Campinas tenta recompor de maneira elucidativa os trabalhos históricos que tratam da Independência brasileira, seja sob os aspectos das continuidades, quer seja nos aspectos das rupturas. Nas primeiras páginas, ela já admite não ser uma tarefa fácil, tampouco imparcial, ela explica que selecionou as obras consideradas mais significativas e que estivesse dentro do contexto histórico e institucional de sua produção. Falando dos aspectos contínuos e descontínuos, ela aponta os processos complexos que engendram o estudo da independência do Brasil e sua historiografia, como por exemplo, a instalação da Corte (1808), a condição de Reino Unido (1816), Revolução Liberal do Porto (1821-1822) e o próprio retorno da corte lusitana (1822), deixando um herdeiro legítimo, este último elemento para a autora fora crucial para diferenciar os processos de emancipação política da América portuguesa em detrimento da América espanhola.

Dentre aquelas coisas que permaneceram, temos o próprio regime monárquico, reinventado com a Independência e a confirmação do sistema escravocrata, no entanto junto à permanência da monarquia se seguiu a criação de uma constituição, originando uma monarquia constitucional que inseria o Brasil nos fluxos internacionais de produção e comércio. A autora ainda sugere que até mesmo a escravidão tivera que ser redimensionada, visando ser compatível com a edificação de uma ordem viável e de formas de governabilidade que a ela se adequassem.

É sob estes aspectos que W.P. Costa analisa diversos autores que de uma maneira ou outra escreveram sobre a independência. Dentre a seara de autores que discursaram sobre este tema, ela faz considerações sobre aqueles que inovaram na produção historiográfica. No campo dos autores que destacaram as continuidades, ela cita dentre outros, Varnhagen e Oliveira Lima, este publicou sua obra por ocasião do primeiro centenário da Independência e diferentemente da obra Varnhaguiana que além de mostrar as continuidades, as considera como essencialmente lusitanas, fundamentais à nação brasileira, Oliveira Lima mostrará as continuidades de uma perspectiva que mostrará uma civilização criada em solo brasileiro, de cultura bastante peculiar e que se sobrepunha à América espanhola e da América inglesa.

Falando dos autores que enfocaram as descontinuidades, a autora discute sobre Caio Prado Jr. e Celso Furtado, ambos de orientação marxista. A visão caiopradiana irá enfocar a economia colonial como um conjunto de zonas econômicas buscando sempre um elo entre elas. A luta de classe descrita por Caio Prado Jr. será realizada ente os grandes proprietário territoriais (classe dominante da Colônia) e a burguesia mercantil metropolitana, luta que não se encerra em si mesma na obra de Caio Prado Jr., W. P. Costa afirma que por esse matiz, no livro Evolução Política do Brasil Caio Prado Jr. forjará a identidade nacional através da luta de comerciantes, escravos, mercadores, artesãos dentro da estrutura maior que era a luta de classe entre a Metrópole e a Colônia. Assim a Independência aparecia como uma revolução, que desafiava as forças conservadoras e foi sendo realizada no período de 1808 à 1831. Celso furtado certamente sofrera influências caiopradianas, mas diferente da unidade econômica que Caio Prado pregava, Furtado irá dizer que as economias exportadoras do tipo colonial, apoiadas na escravidão e no plantation eram muito frágeis para produzir um sistema econômico eficiente. Ele propõe uma dinâmica entre o a construção do Estado Nacional e o entendimento da dinâmica econômica. A Independência assim, para ele se desenvolvera em um período em que a economia se estagnou e o Regime já não conseguia sustentar, provocando uma ruptura, a economia só irá se recompor segundo ele no a partir de 1840, com o surgimento da economia cafeeira carioca e as tarifas protecionistas estabelecidas pelo governo a partir de 1844.

Depois de analisar estes e mais outros autores que não citei aqui, W.P. Costa passa a discutir discussões recentes sobre o tema, pesquisas que foram realizadas em Portugal sobre o período em que a corte joanina esteve presente no Brasil e também sobre a idéia do que é construir uma identidade nacional. Nas últimas páginas ela ainda versa sobre História Política e História Econômica e como as mudanças de enfoques ocorridas nestes dois ramos historiográficos durante o século XX, também mudaram o olhar sobre o fenômeno da Independência brasileira.

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