quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um pouco de Paidéia Grega...

JAEGER, Werner (Wilhelm). Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, [Brasília]: Ed. Universidade de Brasília, 1979. 966p


Jaeger não utiliza de início a palavra paidéia em estudo sobre a formação do homem grego, pois ele começa sua análise a partir dos escritos homéricos, que tem origem por volta dos séculos IX ou VII a.C. e, portanto, ainda não era utilizado o termo paidéia, que apenas surge no século V e com significado primitivo, referindo-se apenas à criação de meninos. Destarte, ele opta por areté, que no português pode equivaler-se a ‘virtude’, “mas não na sua acepção atenuada, e como expressão do mais alto ideal cavalheiresco unido a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro”. Portanto, Jaeger a partir desta definição sobre areté, propõe que sobre este ideal de homem, ocorria a formação do homem grego, tendo em vista que nos escritos de Homero, a Ilíada e a Odisséia, a areté pertence não só a aristocracia, mas também a uma classe acima da aristocracia, isto é, aos guerreiros que possuem habilidades especiais para a guerra, um exemplo disto é à força de Aquiles em a Ilíada e a destreza de Ulisses em a Odisséia. Assim o autor faz seu estudo sobre a formação do homem grego no período homérico sob a areté contida nos escritos de Homero.

Kalokagathía, do grego kalos kai agathos (kalos kagathos), designa bondade/beleza/nobreza. Tanto em Homero quanto em Aristóteles, a areté pertence a uma aristocracia que é dotada desta kalokagathía, entretanto esta bondade/beleza/nobreza manifesta-se em Homero, no sujeito em que é dotado das habilidades para guerrear, que dela usufrui e tem reconhecimento dos outros de sua habilidade. Já para Aristóteles, esta kalokagathía pertence ao homem megalopsychos, ou seja, magnânimo, que tem “uma grande alma”, mas não busca a honra, não tem o desejo da honra como merecimento e sim que age com justa medida, esta justa medida leva o homem a “a apreciação de sua auto-estima, valorização da ânsia de honra e da altivez”, mas não o sujeito físico como ocorria em Homero, para Aristóteles este “alto heroísmo moral” pode ser entendido como “fazer sua beleza”.


(Homero)

Após a vitória dos gregos sobre os persas, Atenas viveu o apogeu de sua cultura no chamado século de Péricles, mas por questões internas envolve-se em uma guerra civil e perde para os espartanos. Esta queda abalou todas as estruturas atenienses, muitos passaram a querer o modelo espartano dentro da própria Atenas, pois o modelo vigente fora o responsável pela queda da “grande” cultura. Como o cidadão grego estava tão ligado à sua polis, isto repercutiu sobre os ânimos de toda a sociedade ateniense e a decisão tomada pela maioria foi a de reconstruir, mas reconstruir sobre o alicerce que os espartanos não conseguiram levar dos cidadãos atenienses, sua cultura. O homem grego de Atenas foi levado a se reconstruir espiritualmente, as reflexões sobre o homem em si, e foi com este espírito que rapidamente Atenas se reergueu alicerçada sobre sua cultura.



A prosa ou escrito científico foi ganhando espaço pouco a pouco dentro da sociedade ateniense, que era marcada pelo aprendizado desde cedo dos poemas homéricos, tragédias e comédias, poetas menores. Esta passagem da poesia para a prosa pode já ser notada nos poemas de Homero, que inauguram um pensamento de ordem, simetria, proporção, harmonia. Nos poemas homéricos os deuses olímpicos são os responsáveis por essa ordem. Dentre os pré-socráticos se manteve por grande parte deles, o escrito poético, sendo Anaximandro, que também era legislador, escrever em prosa e na primeira pessoa. Mas o fato é que no século IV a.C., a poesia se mantém apenas como tradição, contudo não norteia a vida espiritual dos cidadãos, estes recorrem àquela ordem, harmonia para se refazer da guerra e encontram suporte nas legislações, que já eram escritas em prosa, e principalmente nas obras dos grandes prosadores e filósofos: Platão, Xenofonte, Isócrates, Demóstenes e Aristóteles. Assim, a comédia e a tragédia definham, muitas obras são perdidas e temos a prosa grega desse período como nosso maior legado cultural para formação do Ocidente que conhecemos hoje.

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