sábado, 3 de abril de 2010

Anotações sobre estratificação social na Bahia... (séc. XIX) [2]



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As estruturas sociais rurais do recôncavo e do Alto Serão eram um pouco mais sólidas do que as existentes na capital baiana, no caso do recôncavo havia o senhor de engenho, lavradores, assalariados, serventes e escravos compondo a pirâmide social. Os serventes constituíam a classe trabalhadora mais rude, não tinham oficio especializado e ganhavam a vida vendendo sua força de trabalho, seja para abrir roças, desmatar a vegetação seja para perseguir e capturar escravos fugidos. Dentre os assalariados destacam-se os que moravam na cidade, como o advogado e o caixeiro da cidade, que tratavam dos assuntos administrativos do engenho e os que moravam no engenho como o médico e o capelão. No Alto Sertão havia uma composição um pouco diferente do recôncavo por predominar médias e pequenas unidades de produção.




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A sociedade do Alto Sertão, segundo Neves, desenvolveu um sistema de exploração da terra que “corresponde ao que a Sociologia classifica de estrutura camponesa”. Havia os proprietários de terras, que muitas vezes arrendavam suas posses a meeiros, estes por sua vez tinham certa autonomia nas possessões, podendo fazer cultivo ou criar gado em uma porção de terra que lhe era conferida. Um meeiro bom administrador ao longo do tempo conseguia se tornar um grande proprietário, pois fazia com sua produção desenvolvesse de uma maneira que podia separar do seu arrendatário. Estas estruturas fundiárias tinham base escravista, mas compunha em grande parte de trabalhadores assalariados, pois o custo de um escravo no Alto Sertão era oneroso demais, assim era preferível manter assalariados e quando muito pouco mais de uma dezena de escravos.





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Na Cidade da Bahia, seguindo a proposição de Mattoso se pode montar uma pirâmide social da seguinte maneira: altos funcionários graduados da administração real, oficiais de patentes mais elevadas, o alto clero secular, os grandes negociantes e os grandes proprietários de terras, pecuaristas e senhores de engenho no topo; estes são seguidos pelos funcionários de nível médio, oficiais de baixa patente, membros do baixo clero, lojistas, proprietários rurais de menor porte, profissionais liberais, pessoas que viviam de rendas e mestres-artesãos em ofícios considerados nobres; o terceiro grupo identificado compreendia os funcionários públicos, os profissionais liberais secundários, artesãos e os comerciantes de frutas, verduras, legumes e doces nas ruas; o último grupo era dos escravos, mendigos, prostituas e vagabundos, sendo estes três situados no degrau mais baixo de toda a escala social urbana.
Como pode perceber, havia diversos graus de hierarquias e vários postos na estratificação social em Salvador, o que conferia aos habitantes da cidade uma possibilidade maior de ascenderem socialmente, as pessoas de cor, sobretudo, procuravam se embranquecer, isto é, adotar costumes das pessoas da elite banca e também arrumar algum apadrinhamento, o que diferentemente acontecia nas comunidades rurais, onde eram menos numerosas as funções de cada individuo e tinham poucos habitantes, assim se constituía em uma estrutura mais fechada e com menos propensão à mobilidade social.





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A sociedade baiana tinha especialmente uma característica dupla, era baseada no modelo branco europeu, mas que vivia todo o tempo com uma dinâmica original, autóctone que se impunha de maneira marcante. Principalmente na cidade, era uma sociedade aberta, plural que devido à mestiçagem, certamente havia muitas pessoas da elite que não eram brancos, como a própria História pode confirmar como é o caso do Visconde de Jequitinhonha ou do médico José Lino Coutinho, atestado por Mattoso, no entanto isso não colocado em vista, pelo fato de que para ser da elite deveria ser branco, senão na cor, no costume, como já atestara o sociólogo Thales de Azevedo nos seus estudos sobre As elites de cor numa Cidade brasileira na década de 50 do século passado. Destarte, a sociedade baiana passava por entre a estabilidade e a permeabilidade, onde quase todos poderiam encontrar uma brecha para saírem de sua classe.
→ MATTOSO, Kátia M. de Q. Hierarquias sociais. In: _____. Bahia, século XIX: uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. p. 579-601.

→ NEVES, E. F. A formação da sociedade alto-sertaneja. In: ____. Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto Sertão da Bahia, século XVIII e XIX. Salvador. EDUFBA; UEFS, 2005. p. 221-247.

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