Aspectos Metodológicos acerca da História da África...
Em
meados da década de 1950 ocorria no continente africano uma série de processos
emancipatórios nos países que, no período que comumente denominamos
imperialismo (fim do século XIX e início do XX), foram colônias de países da
Europa. Imbuído neste contexto História
da África passou ser admitida como campo de investigação e reconhecida como
disciplina nas academias ocidentais. É importante salientar que parte dos
intelectuais que fizeram parte desta emergência da História da África como historiografia reconhecida, também estavam
envolvidos na luta e defesa das independências das colônias africanas.
A
noção do que estava acontecendo no continente africanos neste período dá pistas
para entender a defesa de Ki-Zerbo na introdução da coleção História da
África produzida pela Unesco, ele afirma que fazer História da África é escrever a História Geral. Isto quer dizer que
não se trata de uma História Local ou Regional, mas sim entender como uma
“História do Mundo”, uma História de afirmação, percebendo a África “por
dentro” dela e suas relações, formações, etc. com as transformações dos homens
e mulheres no tempo e no espaço global.
Ainda
tomando o Ki-Zerbo como referência, para estudar a História do continente
africano é preciso ter em mente as dificuldades que são encontradas, a
principal dela é o fato de muitas sociedades encontradas em África serem
eminentemente orais, ou ainda, mesmo naquelas que possuem letramento, a palavra
falada tem suma importância na formação das relações sociais. De um modo geral,
a palavra falada tem grande respeito entre os africanos, a palavra cria ou
desfaz as coisas. Daí o Ki-Zerbo entender que em África os documentos escritos
e as tradições orais estarem em igual importância na hora da investigação
histórica.
Esta
forma de estudar História, para as sociedades modernas (aquelas que passaram
pelo processo de Rev. Industrial) constitui em inovação metodológica, pois
nestas sociedades industriais, a palavra escrita tem mais valor e cárater de
verdade do que a palavra dita; isto não se aplica, como vimos à maioria das
sociedades africanas. Um dos textos que explicita bem essa relação é o do
Hampatê Bá, ao tratar dos Doma e dos Griots, ele informa como se dá a
formação destes depositários de cultura, ou seja, mensageiros da palavra que
guardam as tradições de determinados grupos. Para se ter ideia da importância
destes guardiões, o pesquisador Muller que estudou o Reino de Angola, conseguiu
por meio dos griots, (lembrando que
apesar de funções semelhantes, os griots variavam de acordo a região)
principalmente através das genealogias, cantadas alcançar a o século XVI.
Entretanto,
nem sempre as tradições orais conseguem dar conta do passado, principalmente
dos períodos mais distantes de nossa contemporaneidade, deste modo a
Arqueologia é uma ciência fundamental para nessa interdisciplinaridade com a
História, que através do estudo da cultura material pode-se conjeturar como
viviam as sociedades em tempos mais longínquos.
Partindo
dos comentários anteriores é possível inferir que a História da África pode ser estudada a partir da interlocução de
tipos variados de fontes (Documentos escritos, traduções orais, cultura
material). E que a elucidação de questões sobre História da África não são respostas locais, mas sobretudo a construção
da história Geral.
REFERÊNCIA:
HISTORIA geral da África. São Paulo: Ática;
[Paris]: Unesco, 1982.
Marcadores: África, Práticas Historiográficas
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