quarta-feira, 8 de julho de 2009

Carolíngios

Carlos Magno foi coroado imperador três séculos após a queda de Roma, no natal de 800. Isso significou a primeira vista o restabelecimento do império, com o retorno da escrita e a unificação dos estados bárbaros. Foi justamente nesse período que a Europa ocidental estava superando o escravismo e ocorrendo a sedimentação de relações sociais de novo tipo, talvez o que tenha ajudado a prevalecer a idéia de poder universal tenha sido a Igreja, que preservou a idéia de Império.

O estabelecimento do período feudal se deu através da fusão entre as heranças romanas e germânicas conduzidos pela cristianização, os camponeses passaram a possuir um pequeno pedaço de terra integrado ao domínio, conviviam também pequenas e grandes propriedades. Existiu também na Europa, o sistema de campesinato livre, que tinha resquícios da organização comunal e a nivelação da situação de dependência dos trabalhadores rurais, todos presos a terra.


O domínio foi a principal unidade produtiva deste período, o domino ou vila é identificada como a grande ou imensa propriedade rural, “organismo em constante movimento”. A estrutura de funcionamento do domínio carolíngio é o que mais chama atenção, a forma como era explorada e a distribuição interna de suas áreas são também fatos bastantes bastante relevantes.

Sua organização para compensar a deficiência dos instrumentos de produção, era um molde extensivo, havia uma má exploração dos solos, que porventura eram pouco férteis e que logo se esgotavam. O aproveitamento do solo bienalmente era o mais comum, feito com o antigo arado romano, que pouco revolvia a terra. O domínio era dividido internamente em: reserva senhorial (mansus indominicatum) e as tenências
camponesas, também chamadas mansos. A reserva senhorial tinha função de complementar a economia agrária.

Cada tenência dava teoricamente para suprir a necessidade de uma família: pai, mãe e não muitos filhos. Entretanto, com o super povoamento, seja pelo número maior de filhos, ou seja, por que ao se casarem os filhos levavam as suas esposas para as suas casas e daí terem também filhos, aumentando o número de pessoas em cada ano. A fim de solucionar essa explosão demográfica foram feitas reformas, fracionando ainda em mais unidades menores os mansos.

A economia dominial fluía em uma economia de trocas por vias fluviais sob uma rígida “moral econômica”, onde a realeza fixou desde os lugares onde poderiam ser realizadas as trocas até o estabelecimento da moeda de prata como moeda padrão e onde a finalidade legitima do comércio era o abastecimento da família ou a partilha com os vizinhos.

As cidades que sobreviveram dentro deste período foram devidas principalmente à existência de bispados ou centros de atividades políticas ou militares. Existiam diferentes tipos de atividades comerciais: locais (realizadas por mascates, intercambio de pequenas quantidades de gêneros); regionais (transações com matérias-primas e alimentos) e; internacionais ( ligado a realeza e ao alto clero a fim de possuir instrumentos para manutenção de seus status). É no período carolíngio que ocorrerá uma reforma monetária.

A sociedade era basicamente sustentada pelo juramento de fidelidade, através do qual os súditos se juntavam à clientela do rei. Carlos Magno com o intuito de impor seu predomínio e ampliar a sua clientela passou a protegê-la e auxiliá-la tornando-se um ciclo vicioso que desgastou o poder público.

A vassalagem tornou-se instrumento do centralismo do poder imperial, onde a terra era a base fundamental das relações políticas carolíngias. A política de vassalagens apesar de criar um núcleo de servidores fiéis, criava também uma dimensão patrimonial que causava uma fragmentação política. Outra coisa que acontecia era que sob a prerrogativa de ser o intermediário necessários entre os homens e o rei, muitos leigos e eclesiásticos se apropriavam em poder próprio as multas e taxas que cobravam em nome do poder publico.

Com o advento dos carolíngios, a Igreja tornou-se quase que exclusivamente a única imune de taxas e impostos, mas ao contrário do esperado pelos governantes, os clérigos não foram servidores ideais, acumulando para si além das atribuições fiscais e espirituais que já detinham as atribuições jurídicas, o que significa que quase todo o poder passava pelas mãos dos eclesiásticos. Essa reformulação da política de imunidades não conseguiu frear o poder dos senhores leigos e também estes senhores passaram a se sobrepor ao regime dominial.

A estabilização das conquistas levou a diminuição da mão-de-obra e por outro lado a manutenção dessa mão-de-obra tornou-se insustentável, pois ficou muito cara aos senhores, ocorrendo então o nivelamento da mão-de-obra, onde camponeses (trabalhadores livres) e escravos viraram servos medievais e estavam diretamente controlados pela realeza.



“Se o maior evento da história da Gália (França) foi a unificação de todas as terras feitas por Clóvis no século V, o maior evento para a história cristã foi a conversão desse soberano à ortodoxia romana pelo batismo”, a conversão dos bárbaros fez a igreja impor-se no ocidente, ela que fora a única instituição que sobreviveu a crise do império romano, mantendo sua própria organização quase que intacta, a Igreja cristã era uma verdadeira máquina administrativa desde o século V, controlando as cidades, sede das suas dioceses, a Igreja foi a principal mentora para a reunificação do ocidente que ocorreu em fins do século VIII.

A Igreja pouco a pouco foi ampliando seu território de influencia, se por um lado suas sedes era nas cidades, ela criou as paróquias rurais, a fim de penetrar no seio da vida dos camponeses e não perder o controle de seu rebanho. Para isso, a Gália foi fundamental, pois serviu tanto para a cristianização de povos pagãos quanto para a expansão pelo mundo rural, facilitada também pelo grande número de mosteiros que surgiram.

O reforço do clero (secular e regular) e da estrutura de organização da Igreja ocidental foi possibilitado pela aproximação dos francos e o papado. A hierarquia da Igreja tinha o bispo, soberano de sua diocese e que resolvia as questões ligadas à religião, além de amparar os doentes e menos favorecidos oriundos geralmente de famílias nobres, tinha o clero secular, que desempenhavam papéis na administração da Igreja preparados por escolas episcopais, por fim existia o chamado clero regular, mais próximo da comunidade e composto basicamente por monges e sacerdotes.

A proximidade entre a diocese e o alto clero com o reino dos francos foi essencial para a organização do reino merovíngio, que se utilizou do modelo eclesiástico para gerir sua administração, entretanto, quem mais se valeu da Igreja será os carolíngios, que do amadurecimento dessa relação igreja e estado, levou a uma fusão quase que plena entre o poder sacerdotal e o poder real.



A partir do século VII, o Estado merovíngio entrou em crise, revelando o perigo que o patrimônio e eclesiásticos e o seu enriquecimento era perigoso para o poder real, o que levou a meados do século VIII, a uma reedição da aliança do estado franco com a igreja, sob novos termos. Os carolíngios, que sucederam os merovíngios no poder dos francos, puseram a Igreja como pilar para sua legitimação política e sagrando seu soberano como imperador. Intimamente ligado a Igreja, o Estado Carolíngio deu origem à cristandade, reunificando o ocidente, sendo este termo utilizado até o século XVII para designar o que hoje é conhecido como Europa.

Carlos magno restaurou a hierarquia da Igreja, com o intuito de transformar a Igreja no elemento unificador de seu império, os carolíngios conseguiram integrar de forma sistemática e coerente, diversas instituições que estavam dispersas. Os membros da igreja, os eclesiásticos, cada vez mais se integravam à sociedade vassálica. O império carolíngio sucumbiu ainda durante o século IX, apesar de sua rápida e notória expansão, tinha as suas bases muito frágeis. A igreja, onde o império Foi fundamentado, permaneceu como árbitra das questões políticas da idade média e guardiã da dignidade imperial, ela que foi o centro de cultura durante todo este tempo, tornou popular a cultura clássica, através dos bispos e padres que cristianizaram o ocidente.

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