Sobre a presença árabe na Ibéria Medieval
- HISTORIA de Portugal: Edição monumental comemorativa do 8 centenário da fundação da nacionalidade. Barcelos: Portucolense, 1928. v. 1. p. 391- 430
- MANTRAN, Robert. Expansão muçulmana: (séculos VII-XI). São Paulo: Pioneira, 1977. p. 107-109. 155-165. 167-169.
- MARQUES, A. H. de Oliveira. Breve história de Portugal. 3. ed Lisboa: Presença, c1995. p. 11-123
D. Rodrigo, rei gôdo da hispânia, foi o último soberano antes de a expansão muçulmana alcançar a península ibérica. Esta incursão árabe em terras européias foi favorecida, sobretudo pelo enfraquecimento da monarquia visigótica, quando Áquila entrou em combate com Rodrigo, que havia sido proclamado rei em Toledo, esta conquista foi facilitada também pela baixa resistência de algumas populações locais e ajudadas pelos judeus que habitavam na Espanha. Os judeus eram perseguidos pelos visigodos e gozavam de autonomia entre os árabes, principalmente no norte da África.
Foi no ano de 711 que Tarife desembarcou na Península Ibérica e com ajuda do exército berbere derrotou as tropas de D. Rodrigo, Tarife obteve ajuda dos partidários de Áquila, que traíram o rei gôdo e contribuindo para a vitória de Tarife. Com a derrota D. Rodrigo fugiu e não se sabe ao certo como acabou. Com esta vitória, os árabes triunfaram sobre Cordóva e Toledo, mas os primeiros governantes eram dependentes do califado de Damasco.
Iuçúfe foi o último governador, em um tempo marcado por batalhas entre árabes e berberes, sírios e medineses. Foi em 755 que Abderramão, o Omíada, assumiu o Califado de Córdova, assumindo o título de emir. O primeiro califa árabe na península ibérica foi ajudado pelos sírios, que haviam sido enviados pelo califado de Damasco para tentar por fim as lutas internas no novo território árabe e controlar os cristãos rebelados, que por fim se fixaram no extremo norte espanhol, na região das Astúrias. O novo país muçulmano foi chamado pelos árabes de Al-Andaluz ou Andaluzia em português, com capital em Cordóva.
Abderramão foi o principal califa do império omíada da península, seguindo dele apenas Abderramão III, pois na época destes emires, não houve guerras com grandes repercussões, um batalha importante foi no califado de Abderramão, quando Carlos Magno enviou tropas para ajudar os cristãos, mas que foi derrotado pelo exército Árabe. A Espanha omíada surge exatamente a partir do primeiro emir de Córdova, que mantém relações estáveis com califado de Bagdá e com o de Damasco, e consegue manter pacificamente elementos de diversas origens em seu território, talvez o que tenha facilitado essa possibilidade seja o fato de que todos adotaram um língua arábico-românica que facilitava a comunicação.
Abderramão III foi talvez o maior soberano de Córdova, seu reinado durou quarenta e nove anos, de glória e conquistas, ele conseguiu manter a paz interna, mesmo entre árabes e berberes, conseguiu equilibrar as finanças, fez justiças nas questões de terra e somente fez guerra aos inimigos de Leão, Castela e Navarro e aos fatímidas, grandes opositores aos omíadas.
Durante a construção da civilização muçulmana na Espanha, é importante ressaltar características singulares deste califado. O Exército era formado por cristãos (denominados de moçárabes), eslavos e berberes, estes últimos geralmente no comando. Foi este exército que através de sucessivas conquistas e ganho de poderes reais ajudaram a derrubar o poder omíada em favor de si mesmos, quando eslavos e berberes começaram a brigar na disputa do poder, surge o período dos primeiros reis dissidentes. O grande Estado muçulmano formado pelo emirado omíada, declina com a subida de Almançor, que em uma política expansionista, confere grandes poderes aos generais do exército e estes fazem com o califado se decomponha totalmente em 1031.
Dentro do território que foi português, além de Badajoz, que abrangia as Beiras, a Estremadura e grande parte do Alentejo, houve pequenos e rápidos principados: em Mértola Ibne Taifor, em Silves Ibne Mozaine; em Santa Maria Ibne Hárune, que deu nome a Faro. Com a subida de Afonso VI no trono de Leão, a vida dos mouros tornou-se complicada, na região de fronteira, os árabes viram-se encurralados e não tiveram alternativa a não ser pedir ajudar ao Almorávidas, Afonso VI tomou posse de Toledo, com isso os reis de Badajoz, Sevilha e Granada recorreram aos seus irmãos muçulmanos da África, mesmo sabendo que eles tomar-lhe-iam o poder, porque para eles “antes cameleiro na África do que porqueiro em Castela” (opinião de Almotámide de Sevilha).
A tomada do poder pelos Almorávidas na península Ibérica foi rápido, diversas questões internas fizeram com que o grande Iuçúfe, que havia surgido como um libertador e triunfador sobre os cristãos, conseguisse com o apoio das massas, legitimar o golpe no Espanha e torna-se o maior chefe do Califado. Os Reis muçulmanos foram pedir ajuda a Afonso VI, o de Badajoz, por exemplo, em troca de proteção entregou-lhe Santarém, Sintra e Lisboa, mas fora assassinado.
Os almorávidas tornam a Espanha Muçulmana unificada novamente em inícios do século XII, recuperando Fraga e Cir, Lisboa, Santarém e Sintra e chegaram até Coimbra, mas não conseguiram toma-la. Os moçárabes foram os que mais sofreram com a conquista Almorávida, pois eles foram tidos como traidores, e os Almorávidas não tinham uma política de apaziguamento. Era um povo guerreiro e que queria manter sua soberania, com isso eram intolerantes religiosos. O que não era esperado era que já no século XII o movimento de reconquista estava bastante forte e articulado, e os exércitos cristãos pouco a pouco vão retomando as cidades e cercando ao almorávidas que vão recuando em direção ao sul. Portugal se viu livre do poder árabe em meados do século XII, quando D. Afonso Henriques reconquista Santarém e Lisboa, mas na península Ibérica, o poder árabe vai até o XV com os Almoádas, outra dinastia vinda do norte da África e eles só são expulsos definitivamente em 1609, quando Granada, último reduto dos árabes é vencida e Felipe III da Espanha degreda quase meio milhão de mouriscos, árabes que convertidos ao cristianismo.
A conquista árabe na península ibérica ocorreu de forma progressiva e rápida, por causa do enfraquecimento do reino visigótico com a conquista mulçumana os povos peninsulares acabaram uns por adotar a língua, a religião e o modo de viver dos mulçumanos enquanto outros apenas assimilaram a língua e o modo de viver.
Os árabes trouxeram grandes avanços para a agricultura, já que onde viviam a natureza era ingrata em relação à água. Na península ibérica – onde o clima era muito mais propício – eles obtiveram um grande sucesso.
Durante o califado a indústria e o comércio também prosperaram, e com eles criou-se a cultura e a civilização. Substituição do pergaminho pelo livro feito com papel de linho; a justiça estava ligada à religião; a filosofia era uma fusão entre Platão e Aristóteles; a matemática e a astronomia não eram bem vistas pelo islamismo, porque os seus estudiosos pareciam querer penetrar no mistério da criação.
Foi graças a Alháqueme II que elas são estudadas e protegidas; e principalmente gozavam de grande favor nas pequenas cortes ilustradas que saíram do califado. A medicina é a ciência predileta dos árabes peninsulares e nela nos legaram obras da maior importância, a exemplo do famoso livro de Averróis, Coliete, por onde a idade média estudou as noções mais gerais da matéria médica e os botânicos também.
A arquitetura é a arte por excelência de cultura árabe, já que as artes plásticas sofreram proibição alcorânica da representação da figura humana e outros animais, e as obras arquitetônicas tinham formas florais e geométricas.
Mesmo com o fim do domínio político que em Portugal durou mais de cinco séculos e em Espanha cerca de oito, a ação árabe sobre a cultura e as civilizações cristãs subsistiram. O casamento entre mulçumanos e cristãos favoreceu isso. Ex: Afonso VI, rei de leão, casou-se com Zaida, filha do rei de Sevilha. Como os povos invasores eram de certas formas flexíveis com os povos dominados, contribuiu para que não houvesse a perda total da tradição cristã peninsular ibérica havendo assim uma “simbiose” de vocabulários e saberes.
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