Anotações sobre estratificação social na Bahia... (séc. XIX) [1]
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--> A composição dos estratos sociais da população baiana no século XIX era bastante diversificada, mas antes é necessário que se tenha em mente que, há diferenças consideráveis entre a estratificação ocorrida em Salvador e Recôncavo e a ocorrida no Alto Sertão da Bahia. Vou deter a minha atenção às hierarquias sociais da porção mais litorânea da Bahia sem, contudo, deixar de me ater às características do Alto Sertão baiano.
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-->Cotidiano em SSA séc. XIX
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Cotidiano em SSA séc. XIX
Um dos principais fatores que diferenciou a colonização lusitana à colonização castelhana foi que enquanto esta teve de se sobrepor a já uma estrutura social preexistente, esta se caracterizou por uma capacidade de assimilação e certa mobilidade social, haja vista que aqui não existiam estruturas sociais bem definidas. A questão da cor excepcionalmente, não era um critério presente em documentos e inventários post mortem, o que fez da Bahia do setecentos aos oitocentos uma sociedade tolerante.
No século XIX essa situação é consideravelmente modificada, começou-se a recusar a admissão de escravos para trabalhos assalariados. Com a abolição da escravatura, essa situação se agravou ainda mais, com a imigração de brancos europeus, pouco havia espaço para os ex-escravos e alforriados. Thales de Azevedo, um dos mais proeminentes cientistas sociais baianos, em um de seus trabalhos: As elites de cor numa cidade da Bahia (1955) pontua que há na cidade da Bahia na década de 1950 famílias tradicionais, que descendiam de grandes proprietários rurais, a classe média, composta por comerciantes, proprietários, funcionários, profissionais liberais, técnicos e empregados do comércio, e os pobres, que viviam de trabalho manual.
--> --> Vista geral da cidade
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-->Orla do Porto da Barra
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Escravos de ganho
Salvador se desenvolveu consideravelmente na primeira fase da colonização, por ser a capital da colônia: sede administrativa, econômica e eclesiástica; mas, no entanto a Metrópole portuguesa não dispunha de muitos braços para colonizar o vasto território descoberto, principalmente no que se refere à questão do trabalho, os portugueses que para cá vinham não aceitavam dispor de sua força de trabalho em terras que não eram suas, o que levou Portugal procurar alternativas a este déficit de mão-de-obra. Como a tentativa de escravizar o indígena que aqui vivia fracassou por diversos fatores, o tráfico de escravos africanos foi a solução, não pela mão-de-obra, mas também pelo próprio comercio.
Esta característica foi o que levou a crer que a estratificação estava regimentada pela cor da pele e no estatuto legal dos pertencentes a comunidade, o que Matoso (1992) definiu como (...) “a mais pobre das visões, a mais imprecisa das descrições das descrições de uma sociedade”. Segundo ela, isso porque desconsidera toda mobilidade ocorrida no Brasil desde os primórdios da colonização à fase de industrialização moderna e também por não levar em conta a vastidão do território brasileiro e suas peculiaridades regionais.
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Autores da historiografia brasileira tradicional, como Caio Prado Jr. e Fernando de Azevedo fizeram suas análises das hierarquias sociais que pode inferir que utilizaram principalmente da ordem institucional, que separava por estatuto a população em livres e escravos. É certo que na época em que esses autores escreveram, não havia a quantidade de documentos empíricos hoje disponíveis a historiadores e cientistas sociais, o que é revelado nos novos trabalhos sobre a estratificação social baiana em geral, mas ainda assim a divulgação de trabalhos sobre o Alto Sertão é menos numerosa que os divulgados sobre Salvador e recôncavo.
Para penetrar no âmago da constituição destas sociedades, faz-se necessário que se atente ao cotidiano de cada grupo, vislumbrando seus aspectos econômicos e maneiras de agir e pensar, exemplo disso é a postura que a elite baiana tinha de si mesma, branca em contraponto a negros e mestiços ou, por exemplo, à questão dos “coronéis” do Alto Sertão que acumulavam as funções de fazendeiro, minerador, comerciante, tropeiro, guerreiro e que levou ainda a exercer articulações políticas e imposições sociais.
--> -->Para penetrar no âmago da constituição destas sociedades, faz-se necessário que se atente ao cotidiano de cada grupo, vislumbrando seus aspectos econômicos e maneiras de agir e pensar, exemplo disso é a postura que a elite baiana tinha de si mesma, branca em contraponto a negros e mestiços ou, por exemplo, à questão dos “coronéis” do Alto Sertão que acumulavam as funções de fazendeiro, minerador, comerciante, tropeiro, guerreiro e que levou ainda a exercer articulações políticas e imposições sociais.
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Um dos principais fatores que diferenciou a colonização lusitana à colonização castelhana foi que enquanto esta teve de se sobrepor a já uma estrutura social preexistente, esta se caracterizou por uma capacidade de assimilação e certa mobilidade social, haja vista que aqui não existiam estruturas sociais bem definidas. A questão da cor excepcionalmente, não era um critério presente em documentos e inventários post mortem, o que fez da Bahia do setecentos aos oitocentos uma sociedade tolerante.
No século XIX essa situação é consideravelmente modificada, começou-se a recusar a admissão de escravos para trabalhos assalariados. Com a abolição da escravatura, essa situação se agravou ainda mais, com a imigração de brancos europeus, pouco havia espaço para os ex-escravos e alforriados. Thales de Azevedo, um dos mais proeminentes cientistas sociais baianos, em um de seus trabalhos: As elites de cor numa cidade da Bahia (1955) pontua que há na cidade da Bahia na década de 1950 famílias tradicionais, que descendiam de grandes proprietários rurais, a classe média, composta por comerciantes, proprietários, funcionários, profissionais liberais, técnicos e empregados do comércio, e os pobres, que viviam de trabalho manual.
Esta distinção em três categorias empreendidas por Thales de Azevedo para caracterizar a sociedade de Salvador na década de 50 do século XX tem suas origens ainda na constituição do povo português antes de se lançar além-mar. Os portugueses se distinguiam basicamente em nobreza, clero e povo. Essa divisão, todavia não era rígida, havia na sociedade de Portugal a possibilidade de comprar títulos de nobreza, o que levava que negociantes e letrados passarem à nobreza, assim como outros exemplos. O povo português era constituído por aqueles que viviam como senhor ou patrão, aqueles que tinham um ofício pelo qual ganhavam a vida ou comerciavam para si mesmo ou para terceiros.
Essa análise da sociedade portuguesa ainda no século XV permite perceber que a divisão em três categorias era puramente simbólica, letrados e negociantes podiam se tornar nobres também, tornando a sociedade lusitana com possibilidades de ascensão. Se analisarmos a sociedade baiana, é possível perceber que havia uma distinção previamente parecida com aquela existente em Portugal, mas que o que distinguia uma classe da outra não era necessariamente a origem, porém a cor, primeira característica na estratificação.
Essa característica pode ser conferida quando a população mestiça aumentou e configurou-se como mão-de-obra capaz de praticar certos ofícios técnicos até então realizados por brancos, daí os brancos que para cá vinham ou até mesmo os que aqui residiam se recusavam a realizar o mesmo trabalho que um mulato, eles garantiam para si a função de comando, assim conseguiam enriquecer e se juntar aos brancos proprietários rurais ou comerciantes e já se consideravam da elite. Não obstante, essa nobreza de terra, título outorgado dado a por essa própria elite, não conseguia mais formar uma aristocracia no sentido literal do termo. O principal expoente dessa aristocracia era o senhor de engenho, que mesmo perdendo suas atribuições mais dignas de fidalguia – comando militar e poder político – em fins do século XVIII continuava sendo o símbolo do poder e riqueza entre os seus.
Essa análise da sociedade portuguesa ainda no século XV permite perceber que a divisão em três categorias era puramente simbólica, letrados e negociantes podiam se tornar nobres também, tornando a sociedade lusitana com possibilidades de ascensão. Se analisarmos a sociedade baiana, é possível perceber que havia uma distinção previamente parecida com aquela existente em Portugal, mas que o que distinguia uma classe da outra não era necessariamente a origem, porém a cor, primeira característica na estratificação.
Essa característica pode ser conferida quando a população mestiça aumentou e configurou-se como mão-de-obra capaz de praticar certos ofícios técnicos até então realizados por brancos, daí os brancos que para cá vinham ou até mesmo os que aqui residiam se recusavam a realizar o mesmo trabalho que um mulato, eles garantiam para si a função de comando, assim conseguiam enriquecer e se juntar aos brancos proprietários rurais ou comerciantes e já se consideravam da elite. Não obstante, essa nobreza de terra, título outorgado dado a por essa própria elite, não conseguia mais formar uma aristocracia no sentido literal do termo. O principal expoente dessa aristocracia era o senhor de engenho, que mesmo perdendo suas atribuições mais dignas de fidalguia – comando militar e poder político – em fins do século XVIII continuava sendo o símbolo do poder e riqueza entre os seus.
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A outra ponta da hierarquia social baiana era o escravo, sem personalidade jurídica, muitas vezes era libertado quando já não tinham capacidade de produzir ou de reproduzir, também não tinham condição material suficiente para ascenderem socialmente, apesar disto, a conquista da liberdade significava deixar de ser coisa para pessoa, fazer parte de um corpo social.
A partir destes dois expoentes aparentemente bastante dicotômicos, ao contrario do que se possa imaginar, não havia isolamentos dos dois grupos, existiu uma forte assimilação mútua, uma troca contínua e que contribuiu a criação de uma identidade única.
→ MATTOSO, Kátia M. de Q. Hierarquias sociais. In: _____. Bahia, século XIX: uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. p. 579-601.
→ NEVES, E. F. A formação da sociedade alto-sertaneja. In: ____. Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto Sertão da Bahia, século XVIII e XIX. Salvador. EDUFBA; UEFS, 2005. p. 221-247.
--> A partir destes dois expoentes aparentemente bastante dicotômicos, ao contrario do que se possa imaginar, não havia isolamentos dos dois grupos, existiu uma forte assimilação mútua, uma troca contínua e que contribuiu a criação de uma identidade única.
→ MATTOSO, Kátia M. de Q. Hierarquias sociais. In: _____. Bahia, século XIX: uma província no Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. p. 579-601.
→ NEVES, E. F. A formação da sociedade alto-sertaneja. In: ____. Estrutura fundiária e dinâmica mercantil: Alto Sertão da Bahia, século XVIII e XIX. Salvador. EDUFBA; UEFS, 2005. p. 221-247.
Marcadores: Bahia, Práticas Historiográficas
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