segunda-feira, 8 de março de 2010

Anotações sobre A participação Feminina no processo se independência de Nova Granada...

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Hoje é Dia Internacional da Mulher e para homenageá-las exporei algumas anotações sobre a participação feminina no processo de independência da região que atualmente compreende majoritariamente a Colômbia. Parabéns a todas as mulheres!!!
Os processos de independência muitas vezes privilegiam a construção de heróis nacionais, que em sua maioria compõem o quadro da elite que se propôs à libertação da colônia do jugo metropolitano, e ainda heróis masculinos, as mulheres pouco ou quase nunca são incluídas como mentoras e soldados nos plano de libertação nacional, no entanto no processo de independência de Nova Granada dentre tantas mulheres que lutaram tanto a favor quanto contra a independência da colônia, pode-se destacar Policarpa Salavarrieta e Manuela Sáenz, que contribuíram para o processo emancipatório de Nova Granada.


Particularmente violenta e lugar de intensas lutas e incertezas sobre o desfecho do processo de independências, a sociedade neogranadina havia se dividido entre os realistas, que apoiavam a Coroa espanhola e os revolucionários a favor da independência político-econômica. Em 1811, por exemplo, a Capitania Geral da Venezuela proclama-se independente fundando a primeira República na América, no entanto esta é efêmera, pois as tropas castelhanas reconquistam-na no ano seguinte. A Colômbia se vê livre da Espanha em 1819 enquanto o Equador só consegue libertar-se em 1822, assim todo o antigo vice-reino de Nova Granada.


Quando se associa batalhas de independência e exercito logo sobrevém a mente figuras masculinas, no entanto nas batalhas de libertação de Nova Granada várias mulheres figuraram entre o exército, seja nas batalhas propriamente ditas ou na articulação destas.



-->Policarpa indo ao suplício


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Uma das figuras mais destacadas em Nova Granada foi Policarpa Salavarrieta, ou simplesmente Pola, sua família tinha origem espanhola e com fortuna regular, vivia em uma cidade entre Bogotá e o rio Madalena, Guaduas e tinha noticias sobre as atividades de emancipação locais que acabavam por se espalhar pela região. Nesta história de mulheres em guerra, sempre se associa sua figura a um marido, noivo ou irmão, como Pola não é muito diferente, Alejo Sabaraín, que não se sabe ao certo se era seu noivo ou amante combateu junto com Póla em diversas batalhas e os dois morreram juntos e com mais sete homens, sendo Póla a única mulher entre os condenados pelo tribunal espanhol.



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Monumento em homenagem à Policarpa


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No entanto, não é fácil reconstruir uma história assim, entre cortados por fatos de aspectos novelescos, sobretudo quando na emergente República de Nova Granada se fazia necessário exaltar heróis que lutaram pela causa nacional, e, sobretudo o nome de Policarpa Salavarrietta fora exaltado, no entanto se faz necessário recuperar a posição do individuo na história, sem com isso colocá-lo em oposição à sociedade isto é, o individuo está intrinsecamente ligado ao cotidiano de uma época e de um espaço determinado.


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Os aspectos da vida de Póla são incertos, o que se sabe é o que foi contado através de crônicas, pinturas e discursos após sua morte, o próprio presidente da Colômbia José Hilário López (1849-1853), que estando prisioneiro do exercito espanhol, estava de sentinela quando viu a heroína ser fuzilada junto com outros oito homens, o perfil dela e sempre de uma heroína, serena, determinada e que levava a população a lutar por seus direitos. O que se sabe antes de sua morte é que ela trabalhou na casa de uma família rica e que era adepta a independência.


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Policarpa indo ao suplício


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Outra participação feminina que ficou na memória do povo neogranadino foi a de Manuela Saénz, conta-se que Manuela abandonara seu marido inglês e tenha vivido com Simon Bolívar durante oito anos, quando se conheceram, Bolívar era recém-presidente da República da Grande Colômbia que abrangia a Colômbia, Panamá, Equador e Venezuela, isto é, parte do projeto bolivariano de unir os países da América Espanhola em confederação.


A participação de Manuela no processo de independência está intimamente ligada à figura de Bolívar, ela ficou conhecida como “a libertadora do libertador”, com dissidências entre as confederações, após a morte de Bolívar, Manuela se refugiou na Jamaica, pois era considerada inimiga por parte de algumas lideranças das recém-repúblicas, como por exemplo, Santander que foi presidente de Nova Granada entre 1832 e 1836.



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Manuela Saénz



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Os episódios que marcam a participação de Manuela nos processos de independência mais têm haver com Bolívar do que com ela propriamente dita, o primeiro caso refere-se a um baile de máscaras, quando Manuela percebe que há uma conspiração que pretende matar “o libertador” e tira a máscara no meio do baile irritando Bolívar e fazendo com que ele se retirasse antes do fim do baile e frustrando o plano dos conspiradores, outro episódio foi quando invadiram o Palácio de San Carlos e Manuela conseguiu impedir que os inimigos políticos de Bolívar chagassem até ele, ela terá trancado a porta com móveis e outras peças, indicado a Bolívar o caminho melhor da saída e quando os inimigos entraram no quarto despiram-nos indicando caminho errado. Por essas atitudes ela foi agredida violentamente até os guardas da tropa palaciana chegaram, devido aos ferimentos, Manuela ficou vários dias de cama, mas quando se recuperou foi declarada pelo próprio Bolívar como a “Libertadora do Libertador!”.


Os fatos sobre a vida de Manuela são controversos, parecido com o que acontece em relação vida de Policarpa Salavarrieta, mas tem-se noticias que esteve presente ao lado de Bolívar nas campanhas da Grande Colômbia (1823-1824) e na Grande Colômbia (1825-1830). Participava das batalhas tanto como soldado como na ajuda em suprimentos e remédios, muitos relatos falam que ela se vestia como soldado durante dia e como uma bela dama à noite.


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Monumento em homenagem à Manuela


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A construção de uma imagem se deu por duas vertentes, as que a consideraram heroína e os que viam uma mulher de comportamento pouco ortodoxo, isso talvez seja reflexo das inimizades e dissidências no projeto bolivariano, pois a maioria dos que não partidário de Bolívar pintam-na fumando, bebendo, vestindo-se como oficial, e até como uma mulher que utilizava a sensualidade para conquistar seus objetivos, no entanto outros falam de uma mulher com bravura durante a guerra, devota aos ideais de liberdade leal a Bolívar, com ama patriótica, etc.


O fato de ter ido amante de Bolívar, sua ações são sempre lembradas como reações sentimentais, desconsiderando que ela tenha tido uma atuação política tão independente como a de Bolívar, sendo complementares, isto pode ser encarado como uma questão de gênero, pois sua imagem sempre fora construída em cima da imagem de Simon Bolívar. O próprio presidente do Equador Rafael Correa em discurso recente, fez um discurso exaltando os feitos de Manuela, mas colocando como costureira função tipicamente doméstica. Posto que se tem noticias de que ela costurou uniformes dos oficiais.

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Símon Bolívar e Manuela Saénz


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As duas melhores mencionadas são alguns dos inúmeros exemplos que poderiam ser citados de figuras femininas que combateram no processo de independência de Nova Granada, mas a história delas está carreada de preconceitos de gênero, que agrega tantas características sobre suas vidas, como mulher máscula ou feminina e sedutora, frágil e delicada ou voluntariosa. Pola sempre foi vista como heroína, diferentemente como aconteceu com Manuela que é mais vista como companheira, amante, amigar e protetora do Libertador.


O certo que nessa cadeia de processos emancipatório do inicio do século XIX na América Latina, estas mulheres ocupam lugar de destaque em um espaço que predominantemente aparecem figuras masculinas, elas fazem parte do conjunto de heroínas na independência de Nova Granada.


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PRADO, Maria Ligia Coelho. FRANCO Stella Maris Scatena. A participação das mulheres na independência da Nova Granada: gênero e construção de memórias nacionais.






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