Anotações sobre o Imperialismo... [1]
HOBSBAWM,
Eric J. A era dos impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1988. p. 87-124.
Este
capítulo de A Era dos Impérios traz
logo no início a justificativa do título: nunca em outro momento da história
houve tantos líderes políticos que se auto intitularam imperadores, e também
época em o colonialismo ganhou feições mais intensas e diversificadas. Meia
dúzia de Estados dominavam imensas áreas continentais. Hobsbawm coloca no rol
dos Impérios deste período as seguintes nações: Turquia, Alemanha, Áustria, Rússia
e Grã-Bretanha na Europa; China, Japão, Pérsia, Marrocos e Etiópia, na Ásia e
África e; nas Américas, até o ano de 1889, sobreviveu o imperador do Brasil.
Contudo,
no que se refere a atuação imperialista como fora definida em fins do século
XIX, isto é, extensão de domínio político, econômico e cultural em diversas
áreas, as nações de economia central europeia tiveram mais êxito na “partilha
do mundo”, a saber: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica.
Salvo duas exceções, os EUA, orientados pela Doutrina Monroe mantinha a América
como objeto de proteção as potências europeias e, por conseguinte, atuaram
indiretamente na defesa dos países americanos e em alguns casos de forma direta
(Cuba, Porto Rico) e o Japão, que conquistaram militarmente regiões chinesas.
O
autor faz longa explicação de como as regiões continentais foram, ao longo do
fim do século XIX e início do XX, disputadas, repartidas e conquistadas por
estas nações. A única exceção desta grande distribuição de áreas territoriais
as grandes potências, é a América, onde suas nações já possuíam, de maneira
geral, no século XIX economia plenamente dependente dos países de economia
central, onde os EUA se constituíam como única exceção. Ao discutir a
emergência do fenômeno do imperialismo, Hobsbawm avalia que a criação de uma
economia global única, foi o acontecimento de maior relevância do século XIX.
Mas que a Era dos Impérios não se limitou aos aspectos econômicos e políticos,
mas também culturais. Uma das definições apresentadas por ele é que o
imperialismo foi um “subproduto natural
de uma economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias
industriais concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1880” (HOBSBAWM,
1988. p. 101).
Além
do aspecto econômico, o autor ainda ressalta o aspecto cultural deste imperialismo,
as vezes também chamado neocolonialismo. As elites que foram criadas nessas
colônias, ao se educarem e transitarem em meios europeus sofreram em certa
medida um processo de ocidentalização dos costumes. A hegemonia se dava através
de formas culturais que predominavam sobre outras – a cultura atuava através do
consenso. No processo inverso, como os colonizados influenciaram os costumes
dos colonizadores, o autor traz que possivelmente isto se deu pelo fascínio e pelo
exotismo. O ocidente interessou-se imensamente pelas formas de espiritualização
orientais, nas artes, na composição do vocabulário. Acerca das artes e vocabulário,
estes na maioria das vezes, ganhavam contornos pejorativos no uso pelos
cidadãos das potências imperialistas. Em que pese o lado negativo do processo
de aculturação nas sociedades colonizadas pelas potências econômicas do século
XIX, em muitos casos foi uma proposta considerada efetiva pelas elites de
governos diversos, como meio de sobrevivência e modernização. Foi o caso do Brasil,
do México, e da Turquia (nos estágios iniciais da Revolução Turca). Outro elemento constituinte do imperialismo
foi a religião, neste período houve grande expansão missionária, e mesmo que os
missionários se opusessem as autoridades coloniais e suas práticas imperialistas,
Hobsbawm afirma que: “O avanço do Senhor
se dava em função do avanço imperialista” (HOBSBAWM, 1988. p. 108).
No
plano político, podemos aferir no texto que o imperialismo pertenceu a uma
época em que a parte periférica da economia mundial tornou-se crescentemente
significativa, ou seja, mesmo com status
de colônias, as possessões territoriais das nações imperialistas tinham grande
influência no desenvolvimento das políticas administrativas e econômicas. Neste
desenvolvimento, Hobsbawm traz questionamentos que os contemporâneos do
imperialismo se perguntavam, dos quais vale destacar o seguinte: “Será que o império não leva ao parasitismo
no centro e ao triunfo final dos bárbaros?” (HOSBAWM, 1988. p. 123). Esta
pergunta ainda está longe de ser respondida, mas na segunda década do século
XXI temos a atuação expoente de um bloco econômico (o BRICS: Brasil, Rússia,
Índia, China, e África do Sul) formado majoritariamente por Estados que foram
afetados direta ou indiretamente pelo imperialismo na condição de países
explorados.
Marcadores: Contemporânea
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