Anotações sobre o Imperialismo... [2]
UZOIGWE, Godfrey N. Partilha europeia e conquista da África: apanhado
geral.
O texto de Godfrey Uzoigwe começa com
uma explanação das diferentes teorias surgidas para explicar o fenômeno
iniciado no fim do século XIX, a saber, o imperialismo: que conquistou e
partilhou a África entre as grandes nações europeias. O autor começa citando
que há três tipos de explicações comumente discutidas: a)teoria econômica;
b)teorias psicológicas (darwinismo social, cristianismo evangélico, atavismo
social); c) teorias diplomáticas (prestígio social, equilíbrio de forças,
estratégia global); d) teoria da dimensão africana. Uzoigwe diz que a teoria
com a qual ele concorda é a da dimensão africana, posto que enfatize a História
da África em si, relacionando-a com os fatores externos ligados principalmente a
Europa. Esta teoria, segundo ele, é a mais aceita porque diferente das teorias
psicológicas que colocam elementos fatídicos do próprio fim do século XIX e das
diplomáticas que são muitas vezes a-históricas, a teoria da dimensão africana
coloca que a dominação sobrevêm de um longo processo da preponderância europeia em solo africano e que “foram motivos de
ordem essencialmente econômica que animaram os europeus e que a resistência
africana a crescente invasão da Europa precipitou a conquista militar efetiva”
(UZOIGWE, p. 51).
Em seguida, Uzoigwe, que tem como
objetivo no texto remontar a origem do imperialismo na África situa alguns
acontecimentos, que segundo ele, foram decisivos para a efetivação da corrida
para a partilha da África. Os eventos considerados por ele são:o interesse que
o então coroado rei da Bélgica (1865), Leopoldo I, tinha pela África e a
expedição que ele mandou ao Congo para explorá-lo em 1879; as séries de
expedições portuguesas a partir de 1876 para anexarem as propriedades rurais
afro-portuguesas em Moçambique; e o caráter expansionista da política francesa
entre 1879 e 1880 que restabeleceu as colônias da Tunísia e Madagascar, a
ratificação de acordos com um chefe político do Congo e do controle do Egito em
1879 junto com o Reino Unido.Estes eventos levaram a Reino Unido e Alemanha,
que até então só mantinha interferência indireta em sua colônia, se lançasse
também a uma ocupação formal e política nos países com quem mantinham relações
comerciais.
A Conferência de Berlim (1884-1885) foi
o ponto chave, na visão de Uzoigwe, para a definição do futuro traçado
territorial na África a competição imperialista iria delinear neste continente.
A presença da Europa no continente africano data de período anterior a
Conferência de Berlim, as potências europeias já mantinham colônias, exploração
de recursos naturais, entrepostos comercias, estabelecimentos missionários, bem
como tratados politico e/ou comerciais com chefes políticos africanos. A
presença de determinado país europeu em certos territórios africanos foi muitas
vezes argumentado a partir destes tratados políticos e/ou comerciais de longa
data, afirma o autor do texto. Além destes tratados, na sua maioria
duvidosos,como aponta Uzoigwe, havia os acordos bilaterais entre as próprias
nações europeias, que definiam em alguma capital da Europa o futuro de milhares
de habitantes em diversas regiões da África.
Em que pese uma série destes acordos,
quer seja entre soberanos africanos e Estados europeus, ou ainda entre as
próprias nações europeias, as contradições dos acordos levados a cabo, as
diferentes noções de ocupação efetiva criaram bases para a ocupação militar
sistemática do hinterland, isto é, do
interior africano. O autor narra uma série de conflitos militares entre países
europeus e reinos africanos, ou ainda entre os próprios europeus (de forma mais
diplomática que militar), na ocupação e divisão dos territórios interioranos da
África.
Uzoigwe conclui o texto traçando alguns
dos motivos que levou a vitória dos europeus sobre africanos: a) o conhecimento
sistemático da geografia física e humana que os europeus detinham sobre a
África, coisa que os africanos despossuíam em relação a Europa; b) o avanço
médico dos europeus que já não temiam doenças como a malária por exemplo; c) o
fator econômico, onde havia uma relação desigual entre o comércio entre estes
continentes, a supremacia industrial europeia e o grande acumulo de capital
levaram os europeus dispensarem grandes reservas a empresa imperialista; d)
entre 1880 e 1914 houve um momento de paz entre as nações da Europa facilitando
a investida imperialista; ao contrário na África, existia disputas entre vários
reinos, deste modo os africanos dividiam a atenção entre a ocupação militar
europeia e suas guerras entre reinos. Enfim, após três décadas de retalhamento
da África pelos europeus, Uzoigwe apresenta o novo mapa geopolítico africano,
afirmando que em 1914 ele nada tinha haver com o de 1879. Foi uma ocupação
sangrenta, pelo poder da metralhadora, apesar de conter arbitrariedade em sua
definição, fixou traçados nacionais indefinidos até o avanço imperialista do
fim do século XIX.
Marcadores: Contemporânea
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial