Alegria...
Sob
o sol de janeiro, sob o clima árido da caatinga, sob os cuidados de meu avô:
assim eram minhas férias. Há imensa saudade daquele tempo em que passar algumas
semanas na roça me distraía completamente da agitação da cidade, lá não havia
nem luz elétrica nem água encanada, nem telefone nem televisão... Tinha meus
tios e meu avô, tinha a paisagem seca e o sol quente.
Vegetação
rala que mal dava para alimentar o gado. Uma vez, diante um período de grande
estiagem, tivemos que levar os animais para beber água num açude e se alimentar
noutras pastagens, pois lá na fazenda já não havia o que comer nem beber.
Caminho comprido, caminho cansativo. Àquelas horas em que passamos na estrada
(das quais não esqueço) foram eternas.
Ainda
chegamos antes do meio-dia novamente em casa, mas todos estavam cansados, os
pés doídos de andar naquele solo vermelho, a pele queimada por causa do sol
escaldante. Entretanto, no campo há sempre no que trabalhar sobretudo em dias
difíceis como aqueles, e todos retornaram ao pasto. Eu fui também (apesar do
cansaço). Sentado à sombra de um umbuzeiro, dentro de uma galinhota, via meu
avô consertar cercas, limpar o pasto, recolher a lenha e carregar água (retiradas
de um tanque barrento) para levar para casa.
Eu
via isso tudo, estava feliz; naquele tempo em que as vacas me pareciam animais
gigantes e os umbuzeiros meus castelos.
O fim do dia, deste dia
chegou. O sol se escondia por detrás da serra, eu de novo em casa, mas agora
brincando no terreiro. Vi meu avô, após guardar as últimas ferramentas,
sentar-se num velho banco de madeira na frente de casa e abaixar a cabeça:
estava desanimado, não havia sinal de chuva, o rebanho longe da fazenda e muito
trabalho em sua roça. Parei de brincar, fitei-o com olhar de felicidade por
estar ali com ele (como em todas as férias), toquei seu ombro e ele lentamente
pôs seus olhos em minha direção... Depois de alguns segundos diante o rosto
cansado de meu avô, exclamei:
-
Vovô, o senhor é minha alegria!
Imagem extraída de: Jmadureira
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