Falando superficialmente sobre interculturalidade...
O
conceito de interculturalidade está relacionado intimamente com os movimentos
migratórios, principalmente os que ocorreram no século XX. Apesar de a
humanidade ter sempre vivido em deslocações entre territórios (umas épocas mais
que outras), após a II Guerra Mundial, a desagregação do mundo colonial e da
divisão bipolar do mundo surgira, diversos estudos sobre os fluxos migratórios
ocorridos desde então quer sejam, intranacionais, quer sejam internacionais.
Neste
contexto é que aparece o conceito de interculturalidade, que em síntese
significa uma apreciação e valorização das diversas culturas que habitam em um
determinado espaço, ocorrendo políticas públicas para uma interpenetração
recíproca dos diversos elementos culturais constituintes das sociedades cosmopolitas.
Essa “mistura”, por assim dizer, não acontece de forma intuitiva ou natural e é
por isso, que o conceito de interculturalidade se distingue de
multiculturalidade, enquanto aquele se refere a um conjunto de relações entre
culturas distintas e também de políticas que favoreçam essa integração, esta se
reporta a apenas a coexistência de várias culturas em um mesmo lugar e, por
conseguinte, sem interpenetração entre si.
Contudo,
há perigos a serem evitados quando se tenta por o conceito de interculturalidade
na prática; um deles é ao propor uma apreciação e valorização do outro, pois,
na relação centro e periferia, colonizador e colonizado pode acontecer uma
valorização do Outro enquanto um ser exótico, algo fora do comum, mas sem de
fato procurar perceber nesse Outro suas experiências, vivências e cultura.
Deste
modo, podem-se identificar no documentário Os
Lisboetas aspectos desses conceitos. Ao apresentar uma vida cosmopolita em
Lisboa. O documentário realça o fato de ter havido um intenso fluxo imigratório,
principalmente do leste europeu, mas também de regiões da África e de outras
nações como Brasil e Índia. Essa presença heterogênea capital portuguesa não significou
políticas eficientes de inter-relação entre essas diversas culturas e nem um Estado
preparado para receber tantos imigrantes. Inocência Mata, discute estes
aspectos, sobretudo em relação à presença de africanos em Portugal após as
guerras coloniais. Segundo ela, houve um silenciamento desta época no discurso
da nação, ou seja, passados mais de vinte anos, a sociedade portuguesa não
discute nem se atém as consequências do fim da guerra colonial, sobretudo a respeito
dos retornados.
No
documentário temos exemplos de como não há política de interculturalidade no
Estado português, os funcionários públicos que trabalham com estrangeiros não
falam outra línguas além do português, as leis trabalhistas não contemplam
igualmente os estrangeiros ou simplesmente não há fiscalização de como são
tratados os imigrantes nas empresas. Assim, através do documentário, pode-se
inferir que, em Lisboa há multiculturalidade, isto é, coexistência de culturas
diversas, todavia não há uma relação intercultural, os portugueses muitas vezes
ignoram a cultura dos imigrantes e estes em contraponto se relacionam mais com
os seus compatriotas, não imergindo assim no mundo cultural em que habita,
vivendo como estranhos de passagem.
Referências:
·
MATA, Inocência. ‘Estranhos em permanência: a negociação
portuguesa na pós-colonialidade’. In Manuela Ribeiro Sanches (org.): Portugal
não é um país pequeno. Lisboa: Ed. Cotovia, 2006, p.285-315.
·
Imagem extraída de: libcom.org
OBS: O documentário Lisboetas
encontra-se no Youtube dividido em dez partes.
Marcadores: Contemporânea, Portugal
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