A civilização bizantina, um olhar sobre a religião
FRANCO JUNIOR, Hilário, 1948; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O império bizantino. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 100 p
O texto de Hilário Franco se inicia pela explanação do conceito que a palavra “bizantino” emprega e as características presentes neste termo. Primeiro aspecto a ser realçado é que “bizantino” nada tem haver com a etnia da população, este termo é evocado para designar a população que viveu sob influência de Constantinopla, antiga Bizâncio e que por mais de mil anos.
“A língua grega, uma vida material faustosa, uma cultura refinada, a concepção de um imperador visto como vice-rei de Deus” foram alguns elementos que inconcebíveis para a conjuntura política, social, econômica e religiosa vivida pelo no ocidente naquela época terminou por afastar os bizantinos. Aliado a essas características, a própria concepção de igreja entre as duas Romas, a ocidental e a oriental, enquanto esta cria que a igreja significava o conjunto dos fiéis mortos e vivos, aquela a enxergava como algo dado e para ser utilizado, como algo mágico.
O autor, de forma didática, procurou delinear o livro não pela cronologia de forma linear e pelas conjunturas do Império Romano do Oriente, Hilário Franco ao contrário, estabeleceu seu livro apresentando aspectos das estruturas religiosas, políticas, econômicas, sociais e culturais que perpassaram todo o Império Bizantino.
Hilário Franco destaca que ao estudarmos as sociedades, determinados aspectos constitutivos são enfatizados por elas próprias e, sem dúvida, no caso bizantino este aspecto é a religião, “que fornecia a fundamentação do poder imperial, a motivação básica e a justificativa da política exterior, os temas e o significado da produção cultural”.
A extensão e a influência das estruturas eclesiásticas, a intensa e exaltada espiritualidade popular e as inúmeras controvérsias teológicas com pesados desdobramentos políticos e sociais talvez seja a explicação para esta importância central dada pelos bizantinos à religião.
Seguindo o patriarca na hierarquia eclesiástica existiam aproximadamente seiscentos bispos e arcebispos que coordenavam milhares de párocos, isso por volta do século X, contudo o que mais se destacou na religião bizantina foi a importância da vida monástica, caracterizado por eremitas, que se isolavam da vida mundana para terem uma vida ascética. Devido aos exageros comumente feitos é que foram elaboradas regras para a vida nos princípios sob lema de “ora et labora”, isto é, oração e trabalho, sendo a mais conhecida dos ocidentais a regra feita por São Bento de Núrsia no século VI, mas esta ora já influenciada pelo modelo monástico de São Basílio, que já procurava estabelecer a valorização da vida em grupo, a disciplina e o trabalho.
“A melhor expressão da cotidiana presença divina entre os homens esta no fervoroso culto as relíquias e nos milagres por ela produzidos”, este talvez seja um dos aspectos mais importantes da religiosidade do povo bizantino, eles possuíam desde o leite materno de Maria numa garrafa até a cruz na qual Cristo fora crucificado, é também pela grande quantidade desses objetos sagrados que são abrigadas nos mosteiros, que a população os via como locais santos eram feitas peregrinações constantes a estes mosteiros, com o intuito de poder ver as relíquias, sendo os monges guardiães das mesmas, considerava-os também santos, recebendo os mosteiros imensas doações de variados tipos, por conta disso, quando os monges morriam produziam novas relíquias, já que também eram considerados santos.
Devido à influência político-social do clero e a intensa religiosidade é que freqüentes e acirradas controvérsias teológicas emergiram, sempre que havia uma discussão reuniam-se as principais sés episcopais a fim de esclarecer tais dúvidas, são os chamados concílios ecumênicos, que era liderado pela Sé de Roma por meio do papa. Como Constantinopla suplantou as rivais no Oriente, como já foi visto, se pôs frente a frente com Roma, para poder disputar a liderança do mundo cristão, assim a cada heresia, repercutia em uma grande discussão política que gerou as primeiras desavenças entre o papado e o patriarcado.
Outra querela determinante para o afastamento das duas arquidioceses foi o movimento iconoclasta, que representou a negação da validade dos ícones, muito presente na religião cristã desde sua origem e que em 726 “o imperador Leão III, motivados por razões religiosas e políticas, decretou que a adoração de imagens era idolatria e desencadeou por todo o império uma sistemática destruição dos ícones”.
Isto durou até 843, visto que o povo nunca admitiu esta idéia, pois viam nos ícones “uma revelação da eternidade na temporalidade, isto é, a comprovação da encarnação”. Com o fim do período iconoclasta, o império bizantino saiu desgastado interna e externamente, no que se refere à política interna, o Estado se viu pormenorizado diante do poder eclesiástico e sobretudo do segmento eclesiástico que saiu vitorioso e na política externa, como Roma tinha declarado sua oposição a esta decisão, por ocasião da invasão lombarda, pediu auxílio a um rei franco ao invés de pedir proteção ao imperador bizantino, a partir de 768 então, cada escolha de um novo papa era comunicado ao rei franco e não ao imperador bizantino, a Igreja Romana também era muito descontente com a grande intervenção que o imperador tinha nos assuntos eclesiásticos, nomeando até mesmo patriarcas leigos, essa situação era adversa pois no ocidente a Igreja tornou-se gradativamente uma força hegemônica. Com essa aproximação entre o papa e o rei franco “também aí foi aberto o caminho para que meio século depois, no final do ano de 800, o rei dos francos, Carlos Magno fosse coroado pelo papa como “imperador dos romanos”.
“A partir de então esse afastamento acentuou-se, como qualquer divergência teológica servindo de pretexto para as reivindicações políticas de lado a lado”, exemplo disso é que uma questão do século V, o acréscimo da expressão Filioque, isto é, “e do filho” à fórmula “o Espírito Santo procede do Pai”, pois Carlos Magno acusou os orientais de não utilizar tal fórmula.Em decorrência destas relações conflituosas, da busca pela hegemonia cristã, levou em 1054 o papa e patriarca se excomungarem mutuamente, fato que foi marcado como o Cisma do Oriente e, que desde então surgiram duas igrejas cristãs, a apostólica romana com sede em Roma e liderada pelo papa e a grega ortodoxa com sede em Constantinopla e liderada pelo patriarca, as rivalidades se acentuaram tanto que o próprio comandante no exército bizantino, diante das invasões dos ocidentais em 1204, “tenha declarado preferir ver em Constantinopla o turbante muçulmano que um chapéu cardinalício”.
O texto de Hilário Franco se inicia pela explanação do conceito que a palavra “bizantino” emprega e as características presentes neste termo. Primeiro aspecto a ser realçado é que “bizantino” nada tem haver com a etnia da população, este termo é evocado para designar a população que viveu sob influência de Constantinopla, antiga Bizâncio e que por mais de mil anos.
Esse povo tinha religião cristã ortodoxa e falava grego, mesmo que sua língua mãe fosse outra, portanto, mais que um império de um povo, o império bizantino foi uma civilização cultural e que em vida apregoava para si o título de herdeiro Legítimo e continuador do Império Romano. Mas o que poderia ser o elemento entre a Roma Oriental e a Roma Ocidental foi seu elemento mais desagregador: o cristianismo.
“A língua grega, uma vida material faustosa, uma cultura refinada, a concepção de um imperador visto como vice-rei de Deus” foram alguns elementos que inconcebíveis para a conjuntura política, social, econômica e religiosa vivida pelo no ocidente naquela época terminou por afastar os bizantinos. Aliado a essas características, a própria concepção de igreja entre as duas Romas, a ocidental e a oriental, enquanto esta cria que a igreja significava o conjunto dos fiéis mortos e vivos, aquela a enxergava como algo dado e para ser utilizado, como algo mágico.
O autor, de forma didática, procurou delinear o livro não pela cronologia de forma linear e pelas conjunturas do Império Romano do Oriente, Hilário Franco ao contrário, estabeleceu seu livro apresentando aspectos das estruturas religiosas, políticas, econômicas, sociais e culturais que perpassaram todo o Império Bizantino.
Hilário Franco destaca que ao estudarmos as sociedades, determinados aspectos constitutivos são enfatizados por elas próprias e, sem dúvida, no caso bizantino este aspecto é a religião, “que fornecia a fundamentação do poder imperial, a motivação básica e a justificativa da política exterior, os temas e o significado da produção cultural”.
A religião era a determinante do cotidiano dos indivíduos desde antes do nascimento até a sua morte. Tudo passava pela religião, haja vista que o Império era na verdade a antecipação do Reino dos Céus na terra, por isso o imperador ser o vice-rei de Deus. O império era, portanto uma cópia imperfeita do Reino dos Céus e seu fracasso era visto como a conseqüência do pecado de seus cidadãos.
A extensão e a influência das estruturas eclesiásticas, a intensa e exaltada espiritualidade popular e as inúmeras controvérsias teológicas com pesados desdobramentos políticos e sociais talvez seja a explicação para esta importância central dada pelos bizantinos à religião.
O patriarca de Constantinopla, logo em 381, no segundo Concílio ecumênico, logrou para sim a primazia sobre as Igrejas de Alexandria, Antioquia e Jerusalém, importantes escolas teológicas e fundadas pelos apóstolos, a pressão feita ao imperador para isso foi feita sob a alegação de que “por ser a nova Roma, o bispo de Constantinopla receberá as honras, logo a seguir ao bispo de Roma”, isso mostra como desde o início o poder patriarcal esteve atrelado ao poder imperial e influenciando-o.
Seguindo o patriarca na hierarquia eclesiástica existiam aproximadamente seiscentos bispos e arcebispos que coordenavam milhares de párocos, isso por volta do século X, contudo o que mais se destacou na religião bizantina foi a importância da vida monástica, caracterizado por eremitas, que se isolavam da vida mundana para terem uma vida ascética. Devido aos exageros comumente feitos é que foram elaboradas regras para a vida nos princípios sob lema de “ora et labora”, isto é, oração e trabalho, sendo a mais conhecida dos ocidentais a regra feita por São Bento de Núrsia no século VI, mas esta ora já influenciada pelo modelo monástico de São Basílio, que já procurava estabelecer a valorização da vida em grupo, a disciplina e o trabalho.
“Em suma, para o bizantino o mosteiro oferecia a imagem de vida ideal, na qual se estava com Deus mas sem se deixar de ser útil aos homens”. Com isso, aumentaram o volume de doações feitas e os costumes foram relaxando e no lugar da vida santa foi surgindo uma vida mundana, mas ainda assim, os monges tornaram-se imprescindíveis para as aspirações do império, principalmente a de alargar as fronteira, visto que, foram eles os principais responsáveis pela evangelização de povos da Europa Oriental. Outro aspecto importante é que os monges não rezavam somente em proveito próprio, mas para todos do império, daí se considerar que por eles o exército, a agricultura e o comércio tornassem melhores.
A religião bizantina sempre esteve muito próxima do povo, os próprios monges se identificavam muito com a religião popular, diferentemente do que acontecia no ocidente medieval, onde havia um enorme fosso entre a elite clerical e o povo. A religiosidade bizantina pode ser caracterizada “por acentuado sentimento de presença do sagrado entre os homens”.
“A melhor expressão da cotidiana presença divina entre os homens esta no fervoroso culto as relíquias e nos milagres por ela produzidos”, este talvez seja um dos aspectos mais importantes da religiosidade do povo bizantino, eles possuíam desde o leite materno de Maria numa garrafa até a cruz na qual Cristo fora crucificado, é também pela grande quantidade desses objetos sagrados que são abrigadas nos mosteiros, que a população os via como locais santos eram feitas peregrinações constantes a estes mosteiros, com o intuito de poder ver as relíquias, sendo os monges guardiães das mesmas, considerava-os também santos, recebendo os mosteiros imensas doações de variados tipos, por conta disso, quando os monges morriam produziam novas relíquias, já que também eram considerados santos.
Devido à influência político-social do clero e a intensa religiosidade é que freqüentes e acirradas controvérsias teológicas emergiram, sempre que havia uma discussão reuniam-se as principais sés episcopais a fim de esclarecer tais dúvidas, são os chamados concílios ecumênicos, que era liderado pela Sé de Roma por meio do papa. Como Constantinopla suplantou as rivais no Oriente, como já foi visto, se pôs frente a frente com Roma, para poder disputar a liderança do mundo cristão, assim a cada heresia, repercutia em uma grande discussão política que gerou as primeiras desavenças entre o papado e o patriarcado.
Outra querela determinante para o afastamento das duas arquidioceses foi o movimento iconoclasta, que representou a negação da validade dos ícones, muito presente na religião cristã desde sua origem e que em 726 “o imperador Leão III, motivados por razões religiosas e políticas, decretou que a adoração de imagens era idolatria e desencadeou por todo o império uma sistemática destruição dos ícones”.
Isto durou até 843, visto que o povo nunca admitiu esta idéia, pois viam nos ícones “uma revelação da eternidade na temporalidade, isto é, a comprovação da encarnação”. Com o fim do período iconoclasta, o império bizantino saiu desgastado interna e externamente, no que se refere à política interna, o Estado se viu pormenorizado diante do poder eclesiástico e sobretudo do segmento eclesiástico que saiu vitorioso e na política externa, como Roma tinha declarado sua oposição a esta decisão, por ocasião da invasão lombarda, pediu auxílio a um rei franco ao invés de pedir proteção ao imperador bizantino, a partir de 768 então, cada escolha de um novo papa era comunicado ao rei franco e não ao imperador bizantino, a Igreja Romana também era muito descontente com a grande intervenção que o imperador tinha nos assuntos eclesiásticos, nomeando até mesmo patriarcas leigos, essa situação era adversa pois no ocidente a Igreja tornou-se gradativamente uma força hegemônica. Com essa aproximação entre o papa e o rei franco “também aí foi aberto o caminho para que meio século depois, no final do ano de 800, o rei dos francos, Carlos Magno fosse coroado pelo papa como “imperador dos romanos”.
“A partir de então esse afastamento acentuou-se, como qualquer divergência teológica servindo de pretexto para as reivindicações políticas de lado a lado”, exemplo disso é que uma questão do século V, o acréscimo da expressão Filioque, isto é, “e do filho” à fórmula “o Espírito Santo procede do Pai”, pois Carlos Magno acusou os orientais de não utilizar tal fórmula.Em decorrência destas relações conflituosas, da busca pela hegemonia cristã, levou em 1054 o papa e patriarca se excomungarem mutuamente, fato que foi marcado como o Cisma do Oriente e, que desde então surgiram duas igrejas cristãs, a apostólica romana com sede em Roma e liderada pelo papa e a grega ortodoxa com sede em Constantinopla e liderada pelo patriarca, as rivalidades se acentuaram tanto que o próprio comandante no exército bizantino, diante das invasões dos ocidentais em 1204, “tenha declarado preferir ver em Constantinopla o turbante muçulmano que um chapéu cardinalício”.
1 Comentários:
tudo q esta escrito ajuda bastante a entender sobre o povo bizantino... ♥♥♥
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