sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Considerações extemporâneas sobre a cidade...

Dias se sucedem e tudo parece ser igual, movidos pela rotina, passamos sempre pelos mesmos lugares, vemos as mesmas pessoas, nos perguntamos sobre as mesmas coisas. O que acontece para que não percebamos o vir-a-ser das coisas? Será que não enxergamos a mutabilidade do mundo? Não será que só sentimos mudar aquilo que nos toca diretamente?


Percebo que no crepúsculo do dia, todos voltam às suas casas, aqueles que não têm, procuram algum lugar na rua, o trânsito fica caótico, mas quando sobrevém a noite, a cidade tranqüiliza-se, adormece, há movimento apenas em alguns pontos isolados, tudo parece calmo, as pessoas em suas casas assistindo televisão, outros estudando e outros ainda trabalhando e na aurora do dia seguinte, vêem de novo a cidade acordar, o vaivém dos carros, o monóxido de carbonos em nossos pulmões, o zunzum de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Pergunto-me se a vida não é algo mais que isso, porque será que acreditamos em viver de acordo a códigos que nem existem concretamente...



A cidade nos faz pessoas distantes do viver a vida, desconhecemos o ser humano, passamos por entre dezenas de pessoas e nem falamos, muito menos as conhecemos. Todos hoje têm medo de seus semelhantes, para muitos criar um animal de estimação é melhor que gerar um filho... Mas temos dificuldade de perceber as mudanças que nos são alheias e vivemos em uma cidade, em uma grande urbe. Porque então vivemos cada vez mais afastados de nossos semelhantes?

Lembro-me da zona rural, lá as pessoas moram distantes uma das outras, no entanto não há um dia que um vizinho passe pelo outro e não haja cumprimentos entre ambos, aqui na cidade moramos uns “em cima” dos outros e passamos meses até perceber que aquela pessoa que vimos noutro dia mora na casa ou apartamento ao lado. Todos na cidade têm pressa, pressa sempre para chegar a algum lugar que não se sabe para onde vai uma vez um professor ironizou: “Para que estudar se não se sabe se viveremos amanhã?” Acredito que a morte sempre muda a vida daqueles que estão vivos, pois a partir da morte podemos perceber que tudo na vida é nada na morte, morte que é mistério para muitos e simples acontecimento natural para outros tantos.


Se a cidade tem muitas pessoas juntas, ao mesmo tempo ela tem a maior quantidade de solidão. Ninguém tem tempo para o tempo da vida, só se pensa em viver. Será que há a possibilidade de planejar uma cidade? Aliás, será que há a possibilidade de projetar uma cidade para que exista mais humanidade e solidariedade entre os humanos? Recentemente tem passado uma propaganda na TV sobre que é o responsável pela mudança para melhor de uma nação, a resposta daqueles que já passaram por esta experiência é: o professor. Esta resposta diz claramente o que muda o mundo, a educação, a partir daí continuo indagando: Quando é que começaremos a planejar nossas vidas, a projetar a sociedade, a construir uma nação a partir da educação?


Pensamos muito em tudo o que falta na sociedade e esquecemos de enxergar o que sobra, tem sobrado políticos corruptos, tem sobrado egoísmo na hora de decidir desde as coisas mais simples às mais complexas, tem sobrado individualismo e busca por mais alguma coisa que nem se sabe ao certo o que é. Lembrando uma passagem dos Evangelhos, Pedro pergunta a Jesus: “Para onde iremos nós?” (Jo 6, 68a) Importante ressaltar o caráter plural desta indagação, pois se somos semelhantes, pouco importa saber aonde eu vou, aonde você vai e aonde ela vai, o importante é aonde iremos... E ainda o caráter teleológico, para onde? Em que sentido? E o mais importante e que fica implícito, aonde chegaremos?


Flexionando meu pensamento ainda sobre a cidade, fica uma última aporía: A cidade não é natural, nem mesmo o cotidiano o é, então qual a razão de construirmos e mantermos algo que nos afasta e nos fazer vítimas algozes?


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2 Comentários:

Blogger Grupo 2 da disciplina Iniciação Musical do curso de Pedagogia noturno da UNEB disse...

Achei a reflexão perfeita. Você isou a problemática da cidade, inserindo elementos concernentes ao tema. Como teóloga,achei fantástico o último parágrafo. Melhor seria se você tivesse revelado a conclusão da frase de Pedro dita a Jesus: "Só tens palavras de vida eterna". Porém, compreendo que este não era o foco da sua reflexão. Parabéns meu amor!

14 de outubro de 2009 às 08:34  
Blogger Raffael disse...

Muuito obrigado Vida pela leitura e crítica ao Blog... sobre o que está escrito, realmente só quis deixar a indagação... mas a resposta dada por Pedro é bem o que cada vez mais precisamos compreender, não há lugar que queiramos ir que em um momento necessitaremos da volta a Ele.

18 de novembro de 2009 às 17:11  

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