Considerações extemporâneas sobre a cidade...
Percebo que no crepúsculo do dia, todos voltam às suas casas, aqueles que não têm, procuram algum lugar na rua, o trânsito fica caótico, mas quando sobrevém a noite, a cidade tranqüiliza-se, adormece, há movimento apenas em alguns pontos isolados, tudo parece calmo, as pessoas em suas casas assistindo televisão, outros estudando e outros ainda trabalhando e na aurora do dia seguinte, vêem de novo a cidade acordar, o vaivém dos carros, o monóxido de carbonos em nossos pulmões, o zunzum de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Pergunto-me se a vida não é algo mais que isso, porque será que acreditamos em viver de acordo a códigos que nem existem concretamente...
A cidade nos faz pessoas distantes do viver a vida, desconhecemos o ser humano, passamos por entre dezenas de pessoas e nem falamos, muito menos as conhecemos. Todos hoje têm medo de seus semelhantes, para muitos criar um animal de estimação é melhor que gerar um filho... Mas temos dificuldade de perceber as mudanças que nos são alheias e vivemos em uma cidade, em uma grande urbe. Porque então vivemos cada vez mais afastados de nossos semelhantes?
Lembro-me da zona rural, lá as pessoas moram distantes uma das outras, no entanto não há um dia que um vizinho passe pelo outro e não haja cumprimentos entre ambos, aqui na cidade moramos uns “em cima” dos outros e passamos meses até perceber que aquela pessoa que vimos noutro dia mora na casa ou apartamento ao lado. Todos na cidade têm pressa, pressa sempre para chegar a algum lugar que não se sabe para onde vai uma vez um professor ironizou: “Para que estudar se não se sabe se viveremos amanhã?” Acredito que a morte sempre muda a vida daqueles que estão vivos, pois a partir da morte podemos perceber que tudo na vida é nada na morte, morte que é mistério para muitos e simples acontecimento natural para outros tantos.
Se a cidade tem muitas pessoas juntas, ao mesmo tempo ela tem a maior quantidade de solidão. Ninguém tem tempo para o tempo da vida, só se pensa
Pensamos muito em tudo o que falta na sociedade e esquecemos de enxergar o que sobra, tem sobrado políticos corruptos, tem sobrado egoísmo na hora de decidir desde as coisas mais simples às mais complexas, tem sobrado individualismo e busca por mais alguma coisa que nem se sabe ao certo o que é. Lembrando uma passagem dos Evangelhos, Pedro pergunta a Jesus: “Para onde iremos nós?” (Jo 6, 68a) Importante ressaltar o caráter plural desta indagação, pois se somos semelhantes, pouco importa saber aonde eu vou, aonde você vai e aonde ela vai, o importante é aonde iremos... E ainda o caráter teleológico, para onde? Em que sentido? E o mais importante e que fica implícito, aonde chegaremos?
Flexionando meu pensamento ainda sobre a cidade, fica uma última aporía: A cidade não é natural, nem mesmo o cotidiano o é, então qual a razão de construirmos e mantermos algo que nos afasta e nos fazer vítimas algozes?
Marcadores: Educação, Porquê "Porque Tudo Muda...", Religião
2 Comentários:
Achei a reflexão perfeita. Você isou a problemática da cidade, inserindo elementos concernentes ao tema. Como teóloga,achei fantástico o último parágrafo. Melhor seria se você tivesse revelado a conclusão da frase de Pedro dita a Jesus: "Só tens palavras de vida eterna". Porém, compreendo que este não era o foco da sua reflexão. Parabéns meu amor!
Muuito obrigado Vida pela leitura e crítica ao Blog... sobre o que está escrito, realmente só quis deixar a indagação... mas a resposta dada por Pedro é bem o que cada vez mais precisamos compreender, não há lugar que queiramos ir que em um momento necessitaremos da volta a Ele.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial