Porque Tudo Muda...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Trabalho Compulsório na Antiguidade...

Como amanhã é dia do trabalho, trago-vos algumas observações sobre o trabalho compulsório na Antiguidade, visto que o trabalho existe no mundo desde que o homem pôs os pés nele. Ao ler o que sesegue, proponho algumas reflexões... saímos da compulsoriedade do trabalho? será que não temos um rei (o capitalismo) ditando quando e de que forma devemos trabalhar?

A leitura sobre a Idade Antiga é bastante complicada e cheia de desafios, pois os principais materias que os hisatoriadores dispoêm são fornecidos majoritariamente pela Arqueologia e pela etnografia, visto que muitas sociedades não deixaram muitos escritos ou até mesmo eram ágrafas. Refiro-me também à "Pré-história", talvez caminho ais inseguro e cheio de armadilhas, mas a partir da leitura de Diakov e Kovalev em A Sociedade Primitiva e dos textos Egito AntigoTrabalho compulsório na Antiguidade de Ciro Flamarion Cardoso é possível ter uma primeira orientação de que foram estas sociedades e como o trabalho nelas se desenvolveram.

Diakov e Kovalev, ambos de tradição marxista, trazem contribuições no que diz respeito à formação do Estado e da instituição da escravidão. É na Idade do Bronze que surge a divisão de classes, antes baseada apenas na diferenciação por gênero, passa a partir de então a ser dividida por entre aqueles que aprimoram e produzem seus meios de sobrevivência e aqueles que ainda têm um desenvolvimento técnico rudimentar.


Esta divisão de classes é originária muito diretamente do excedente produtivo, resultado de uma agricultura e uma pecuária já bastante desenvolvidas. É importante destacar que o desenvolvimento agrícola se deu antes do desenvlvimento da pecuária. Outro fator crucial para esta divisão foi o advento da Idade do Ferro, metal mais abundante e resistente que o bronze e a pedra, que gerou uma classe de ferreiros, que foram os primeiros a se separarem do todo clânico, seguidos pelos guerreiros.


A passagem de um período para outro não foi de maneira uniforme, mas essa complexificação das relações dos clãs deram origem ao Estado por volta do Neolítico Superior, que foi erguido e sustentado basicamente por quatro estruturas: uma nobreza aristocrática de sangue, uma burocracia militar, a escravidão e a religião que tinha subserviência ao Estado reforçando a divisão de classes.

Para tratar do trabalho compulsório, forma de trabalho pela qual o indivíduo não escolhe por livre vontade ou se tenta se retir
ar, é punido pelo ato, a escravidão é a melhor estrutura do Estado para caracterizá-lo. Surgida inicialmente como doméstica ou patriarcal, isto é, o escravo possuía praticamente os mesmos direitos de um homem livre, a não ser que, seu destino era decidido pelo seu dono, a escravidão logo também se complexificou passando a ser originada por guerra e também por dívidas.

Já havia no clã, grupos que
detinham os meios de produção e grupos que por falta de recursos se submetiam a prestar serviços para esta "nobreza" que surgia, e quando o Estado se constitui de fato e de direito, estas relações se intensificam e estes grupos mais pobres começam a se desagregar, indivíduos contraem emprétimos e sem condições de pagar, ficam sob posse do credor. a escravidão por guerras ocorre qunado os conflitos deixam de ser por vingança para serem disputa e conquista de territórios, sendo aos vencidos imposto a condição de escravidão.

A escravidão portanto, foi a primeira forma de exploração do homem pelo homem, estando presente nas civilizações que se seguiram após esta primeira fase da sociedade humana e sendo redimensionada às características polítcas-econômicas-sociais de cada época.

E é sobre o desenvolvimento das formas de trabalho compulsório que Ciro Flamarion Cardoso faz uma análise, expondo os significados e conseuqencias deste tipo de trabalho, tanto no Egito quanto na Mesopotâmia.

O Egito foi a mais longa experiência de uma monarquia que já existiu e que tinha caráter teocrático, ou seja, o faraó (chefe supremo) era a própria divindade no poder. Abaixo do faraó sempre exitiram divisão de classes, mas nunca a sociedade egípcia foi caracterizada pela divisão entre livre e escravos, o que não significa que não tenha existido o sistema escravista no Egito ou até mesmo que essa fosse a única forma de trabalho compulsório no Delta do Nilo.

Talvez a forma mais nítida de trabalho compulsório no Egito tenha sido a Corvéia Real, que se caracterizava pela possibilidade de que quando o Estado necessitasse de mão-de-obra, convocava a população, mantinha-os sob custódia do governo e só podiam sair quando a obra a ser realizada fosse concluída. Muitas vezes esses trabalhadores ficav
am em condições sub-humanas e se tentassem fugir, tinham membros mutilados e caso escapassem por mais de seis meses, era aplicada a pena de escravidão hereditária.

Dentre à população, os camponeses eram maioria absoluta, constituíam assembléias locais, mas suas terras pertenciam quase sempre ao poder estatal, isto também ocorria com os templos, desta maneira, o faraó controlava e possuía quase todas propriedades do império.

Na Mesopotâmia também existia a Corvéia Real, mas sendo as cheias do Tigre e do Eufrates mais violentas que as do Nilo e possuindo certa escassez de terras férteis em relação ao vizinho do Nilo, as sociedades mesopotâmicas foram essesncialmente urbanas, com a pro
priedade privada em número muito maior que no Egito, que como supracitado, tinha quase todas as propriedades sob a égide do Faraó e era essencialmente agrícola.

Outra forma de trabalho compulsório no Egito era o imposto aos construtores de sarcófagos, tumbas, etc. Eles viviam em casas acima do padrão da maioria da população, tinham boas condições de vida, entretanto, descobertas arqueológicas demontraram que o que outrora fora chamado de "cidades operárias" consistiam em verdadeiros "povoados-prisões", haja vista que estas vilas eram fortemente muradas, possuíam
apenas uma entrada e saída e eram vigiadas permanentemente por guardas.

Os escravos no Egito não
eram numerosos, tinham dentre eles líbios, núbios e asiáticos, mas também havia escravos egípcios. Os escravos domésticos e os escravos artesãos tinham "melhores" condições de vida do que aqueles que trabalhavam nas pedreiras, estas tiveram papel relevante na economia egípcia. Na Mesopotâmia, os escravos eram em sua maioria urbanos.

A religião esteve sob o domínio estatal tanto no Egito quanto na Mesopotâmia, a diferença era que na Mesopotâmia, o manarca era o mediador entre deus e o povo, enqunato no Egito, o faraó era a encarnação do deus na Terra, mas tanto em um caso como em outro, os templos não tinham autonomia e sacerdotes podiam ser chamados à Corvéia.

A partir de todas essas informações, não se pode confundir a propriedade privada contida no Direito Romano daquelas que existiram na Antiguidade Oriental e tampouco caracterizar escravos do modelo clássico da escravidão mediterrânea. Os camponeses egípcios por exmplo, não podem ser considerados trabalhadores "livres", mas também não foram escravos e muito menos "servos" no sentido feudal da palavra, eles devem ser estudados com suas singularidades, sem anacronismos. Assim também ocorre com os artesãos que viveram nas "cidades operárias". Desta forma, nota-se que em uma sociedade que está sob o domínio de um rei, não existe "livre" a não ser o rei.

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terça-feira, 28 de abril de 2009

Considerações primeiras acerca da Felicidade...

Felicidade... incógnita para muitos, experiências para outros. Mas afinal: O que é Felicidade? Pois então, estive pensando muito sobre minha felicidade nos últimos dias e como de costume, acabei por viajar no conceito primeiro de felicidade, o que é isso que todo mundo busca incessantemente? Isto é, O que é a Felicidade em si? A partir de experiências pessoais e conhecimentos prévios acerca deste tema vos trarei algumas considerações simplórias sobre o que eu acredito ser a tal da Felicidade...


Muitos filósofos se propuseram a explicar o que seria essa tal de felicidade, dentre eles Russel afirmou que "Não possuir algumas coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade". É a partir daí que começo a refletir sobre o que seria a felicidade. Pensamos, falamos, comemos, brincamos, e com disse o historiador Marc Bloch "Cada ação humana tem sentido", isto é, por fazermos tais coisas e ser tão habitual dizer que somos humanos, que não nos damos conta do que isso realmente possa significar. Temos Vontade, como já relatei em outros posts, e essa vontade a priori visa o bem-estar, o bel-prazer, a felicidade. Seja a própria felicidade ou de outrem, mas mesmo que involuntariamente, sempre estamos causando algum tipo de sentimento a alguem e a nós mesmos, seja satisfação ou insatisfação. Por isso é que para Russel, a constante busca de algo, faz com que tenhamos a idéia de que a felicidade é possuir tudo o que nos apraz.

Se pararmos para pensar, existem duas situações bem diversas: ser feliz e estar feliz, esta é a mais comum de todas, no dia-a-dia em meio a conquistas, resultados positivos; aquela é a verdadeira insatisfação humana: todo o tempo ninguém é feliz, pois o desejo mais ouvido nas ruas é ser feliz. A verdade é que se possuíssemos todos os nossos an
seios, não teríamos vontade de coisa alguma, visto que todas as benesses da vida estariam à nossa disposição. A busca da felicidade está atrelada a busca por algo, no momento que conseguimos, propomos a nós mesmos, novos e maiores desafios, conquistas mais difíceis. Mas a constante busca pela felicidade a qualquer custo e projetar nossa alegria em algo exterior e palpável pode nos levar a uma busca enfadonha, onde esqueçamos o real significado de estarmos aqui na Terra, que é viver.

Lembrando o poeta Drumond, "ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade", a felicidade a meu ver deve partir do interior, e aí trago o conceito cristão de felicidade: duas passagens são o Salmo 31, onde vemos que o princípio da felicidade é o perdão, é
através do perdão que curamos nossa mente e nosso corpo e depois no Sermão da Montanha, Jesus traz as bem-aventuranças que refletem sobre a atitude moral do homem, ou seja, atitudes que podem nos levar a plenitude da felicidade. Assim, todo aquele que se lança em busca da essência humana, que é o amor. Poderá assim encontrar a felicidade, meio sem motivo aparente, como afirmava o poeta, mas poderá desfrutar dos bel-prazeres espirituais que a vida proporciona. Felicidade é nada mais que o bem-estar interior e depois o amor consigo e com o próximo.

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Observação Histórica (Resumo interpretativo do livro Introdução à História de Marc Bloch - SEÇÃO II )

A observação histórica é o primeiro dos métodos históricos analisados por Marc Bloch (que foi membro da Escola dos Annales) em sua obra: Introdução à História ou Ofício de Historiador, segundo ele, o conhecimento do passado e da maior parte dos fatos do presente só pode ser apreendido através dos vestígios da transmissão dos testemunhos, assim a História se estabelece como uma ciência inexata, propriedade comum às ciências do homem. O historiador não é capaz de remontar os fatos tal quais aconteceram, ele apenas pode trazer à tona interpretações possíveis, transformando continuamente os fenômenos.


Os testemunhos são instrumentos fundamentais para que o historiador remonte cenas do passado, entretanto para que se conheça o passado, o historiador se prende aos vestígios e estes por muitas vezes não são bem interrogados levando-os a conclusões errôneas. A observação histórica consiste em fazer com que diante dos vestígios, os estudiosos saibam retirar as informações necessárias para que o fenômeno histórico possa ser remontado, contudo do passado mais longínquo ao passado mais próximo, varia-se apenas a intensidade da observação, inalterando, porém os métodos de estudo.


A importância dos testemunhos para a investigação histórica é que sendo a História uma ciência unicamente constituída por elementos humanos, os testemunhos abarcam tudo aquilo em que o homem é capaz de mudar a natureza.


Para toda observação histórica é necessário ao historiador orientar-se pelo método, sabendo ele que nunca poderá guiar-se rigorosamente pelo itinerário inicialmente proposto, posto que a investigação histórica nunca possa ser examinada com rigidez por tratar-se de elementos basilarmente humanos, ainda assim a orientação pelo método é a maneira mais viável para poder conduzir todo o processo de observação do fato histórico.


Para que a eficácia dos testemunhos seja atingida, é de importância que exista uma conexão entre objeto de estudo e como o historiador planeja o atingir, haja vista que os fatos humanos refletem uma complexidade altamente diferenciada e o homem encontram-se no limite da natureza, sendo imprescindível que os investigadores possuam múltiplas técnicas das suas funções. Da observação parte-se para a crítica.






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À Princesa do Sertão

Fotos da Princesa do Sertão... em breve estarei postando as singularidades da Princesa e seu rápido crescimento na última década, seus bairros, seu sistema de transporte, seus principais empreendimentos comerciais e sempre fazendo um link com a Cidade da Bahia, minha eterna Soteropólis (Salvador para os desavisados). Enquanto isso, é bom ir se familiarizando com a paisagem da terceira maior cidade do interior brasileiro.




Complexo Viário José Ronaldo de Carvalho (Av. José Falcaão - sentido centro)



Complexo Viário José Ronaldo de Carvalho (Av. Transnordestina - sentido br 116 norte)



Av. Getúlio Vargas



Acesso ao viaduto da Av. João Durval Carneiro



Panorâmica (Av. Getúlio Vargas e bairro Kalilândia)




Canteiro Central da Av. Getúlio Vargas



Panorâmica bairro Ponto Central



Panorâmica (sentido Nordeste)



Panorâmica (Centro)



Panorâmica (sentido Noroeste da cidade)

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terça-feira, 21 de abril de 2009

Conceitos Filosóficos sobre a Vontade (Parte II - fim)



Na primeira postagem sobre os conceitos filosóficos sobre a vontade, eu me propus a especificar a definição de vontade comumente aceita e as reflexões de dois grandes filosófos, (Sto Agostinho da Idade Média e René Descartes da Idade Moderna) agora vos trago uma reflexão de outros dois grandes nomes da filosofia, Schopenhauer e Nietzche, feita por: Sandra Portella Montardo, aqui é apenas a conclusão feita pela autora. (www.bocc.uff.br/pag/montardo-sandra-schopenhauer-nietzsche.pdf)


Doutora pelo PPGCOM da PUCRS, Linha de Pesquisa Comunicação e Tecnologias do Imaginário (2004), fezEstágio de Doutorado na Paris V, Université René Descartes, Sorbonne (dezembro2003-junho2004), participou das sessões do GRETECH/CeaQ. Professora e pesquisadora do Curso de Comunicação Social do Centro Universitário Feevale , em Novo Hamburgo, RS,pesquisadora do Grupo Comunicação e Cultura, filiado à mesma instituição.


"Ao falar que a vontade de existir é impossível dado que a vontade já pressupõe ela própria a existência, Nietzsche repete um ponto explicitado à exaustão na obra de Schopenhauer. Para este último, a vontade é livre, autônoma e estando ela própria em condição de inerência com relação à vida. Por exemplo, quando Schopenhauer afirma que “onde houver vontade,haverá também (sic!)vida, mundo” (SCHOPENHAUER, 1951, p. 22). Ao que Nietzsche emenda: “Só onde há vida há vontade; não vontade devida, mas como a predico, vontade de domínio”. (NIETZSCHE, 1999, p.97).


No entanto, Schopenhauer também fala que o mundo é a representação da vontade, espelho desta, na medida que é onde o homem pode reconhecê-la. E isto porque a Vontade como essência, como coisa em si, é inconsciente em si mesma, necessitando da ação do homem para tornar-se consciente. Vale dizer que este, por sua vez, só tomará consciência da própria vontade a partir da concretização desta em atos. Ou seja, seu caráter empírico informará ao seu caráter inteligível a sua vontade após a sua concretização. Eis o mundo como representação.


Associada à idéia do mundo como representação, ou seja, como algo que já foge da esfera de realidade, ligado ao fato de que o homem recorre ao caráter inteligível para agir ou não de uma de terminada forma, compreende-se porque o homem cria fantasmas imaginários, resgatando-os do passado ou projetando-os para o futuro. Para Schopenhauer, só existe o tempo presente enquanto realidade e lugar de atualização da vontade latente no homem.


Para este autor,quando se perde a consciência de que o presente é o único tempo real, do qual nada jamais vai subtrair-lhe, o homem torna-se inibido pelo que a sua experiência informou ao seu intelecto, perdendo de foco a sua vontade enquanto potência para o hoje. Por outro lado, Schopenhauer diz que viver é sofrer dado que a vontade é insaciável, colocando-se sempre em como reação a uma falta. Nisso, a vida do homem oscila entre a satisfação de uma vontade e o fastio referente a esta.


Ainda com relação a esse ponto, Schopenhauer afirma que cada um dispõe do sofrimento que se faz necessário para a sua própria vida. Porém, a dose de sofrimento solicitada por um homem parece ser diretamente proporcional à sua incapacidade de reconhecê-la reportando-o para inexistências presas ao passado e ao futuro. Nesses casos, este homem não consegue nem admitir o que o faz viver, tampouco consegue enxergar no presente oportunidade para desviar-se dessa condição. Afinal, não se aprende a querer.


Na medida em que o homem pensa-se como exterior à sua vontade, dado que não a reconhece, pois não a age, decorre que este homem atribui tanto o seu sofrimento quanto a sua suspensão a fatores também externos. Donde, ídolos, deuses, fantasmas do passado, projeções para o futuro que o homem elege para que tenha a quem servir, na falta de coragem para ouvir e prover de existência os seus próprios fantasmas.


Pelo mesmo motivo, Nietzsche aconselha não o amor ao próximo, enquanto falta de amor a si mesmo, mas o amor ao mais afastado. E ele ainda acrescenta que este afastado refere-se ao possível indicado pela dedicação do homem, em termos de sua inteligência e da sua virtude ao que é terreno, no que culminaria um encontro consigo mesmos através da realização de sua vontade.


“Quando o poder se torna clemente e desce ao visível, a essa clemência chamo eu beleza”(NIETZSCHE, 1999, p.99), a partir do que pode-se associar esse visível que passa-se a chamar de beleza enquanto realização da vontade.


Com isso fica clara a posição do autor em propor que cada homem deve exigir mais do que a ninguém de si mesmo tal beleza, de modo que essa bondade seria a última vitória de cada um sobre si mesmo. Nota-se, no entanto, que Nietzsche diferencia esta bondade da dos que se consideram bons por servirem aos outros ao invés de servirem a si mesmos, sem darem-se conta, ao menos, de que estão satisfazendo a própria vontade de serem rebanhos ou vassalos do que quer que seja.


Quanto a estes, este pensador expõe que eles colocam a sua vida no rio do porvir, acreditando em algo longe e exterior a si próprios, submetendo-se a deuses e ao futuro de maneira passiva, onde a única vontade que se manifesta é a deserealizar pela projeção em algo externo e independentes de sua existência, ainda que quem pinta os contornos dessa inconsistência brumosa seja cada um deles.


“Não é o rio o vosso perigo e o fim do vosso bem e do vosso mal, sapientíssimos, Mas essa mesma vontade, a vontade do poder”(NIETZSCHE, 1999, p.71), esclarece mais tarde Nietzsche. Aqui, o pensador alemão introduz a questão da destruição de todo o bem e de todo o mal como força criadora resultante da vontade. Eis, assim, a condição para que o homem ultrapasse a si mesmo, dando forma à nação que daria a luz ao Super-homem. É a esse afastado possível e terreno que assume a consistência do afastado ao que Nietzsche refere-se, tratando-se de uma transcendência do homem pelo próprio homem.


Desse modo, transparece tanto na obra de Schopenhauer quanto na de Nietzsche questões que atrelam a vontade à questão da transcendência. No entanto, para Schopenhauer tal transcendência revela-se na medida em que a vontade converte-se em ação projetada em outro, como válvula de escape dos medos imaginários apresentados Pelo caráter inteligível a partir da experiência. Nietzsche aproxima-se desta noção ao falar do homem na condição e colocar sua vida num porvir que parece ser descolado da própria vontade deste homem, ainda que este porvir não poderia ser concebido sem que houvesse uma vontade, mesmo não reconhecida, para tanto.


Contudo, a questão de transcendência em Nietzsche não pára por aqui. Ele vai além ao propor que o homem deve realizar a sua vontade aqui na terra, na medida em que afirma que somente quando o homem enfastiar-se de sua sublimidade (o que ainda não é mas que pode vir-a-ser) principiaria a sua beleza. Nisso que envolve a destruição do que é dado para que haja a proposição do que pode vir-a-ser, Nietzsche enxerga a vontade de poder. Vale ressaltar que ligada a essa vontade de poder vem o peso que o homem que obedece a si mesmo carrega, de ser o juiz, a vítima e a testemunha do que há de mais alto e mais baixo em seus sonhos.


Superação de si a partir de si aqui na Terra. Amor ao afastado como condição de realização da vontade mais íntima. Vontade de poder. Parece ser isso que Nietzsche ouve da vida quando diz que ela lhe confiara um segredo: “eu sou o que deve ser superior a si mesmo”(NIETZSCHE, 1999,97)."




BIBLIOGRAFIA:

  • NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra São Paulo: Martin Claret, 1999.
  • SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: Edições e Publicações Brasil, 1951.

CRÉDITO DAS IMAGENS:
  • http://eutoatoa.wordpress.com/
  • http://gmsecaadegas.hi5.com/


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